Ok, então nós podemos falar mal dos americanos, porque eles são capitalistas nojentos, ignorantes, neuróticos e patéticos, certo? E todos eles votaram no Bush, claro. E apóiam incondicionalmente o seu presidente.

Vamos também falar mal, mas bastante mal, ofensivamente mal, dos argentinos. Nenhuma ofensa é forte o bastante para eles, que são metidos, arrogantes, violentos no futebol e nossos eternos rivais. Certo?

Pra mim tá errado. Não sei por quê. Tenho a impressão – vai ver que eu é que estou errada – de que isso é ódio. É generalizar. É ser ignorante, no sentido mais abrangente da palavra: ignorar as exceções, por exemplo. Se quisermos, sempre teremos uma desculpa pra falar mal dos outros países. Mas isso é sentar no rabo e achar que o Brasil é o melhor de tudo, ou não: podemos também falar mal dos outros e falar mal de nós mesmos, destilando até a última gota de veneno e amargura. Sem dispensar, claro, aquela dualidade maravilhosa, que nos permite falar mal de umas coisas e exaltar outras desbundadamente, como se as qualidades e os defeitos de uma pessoa, de uma família, de um país ou o que quer que seja não estivessem costurados todos juntos num embolado só.

Eu é que tô cismada, deixem pra lá.