Ah, é. Demorou mas lembrei. Sempre me acontece isso, penso em um post e ele me escapa, ainda mais nesses últimos dias em que não tenho escrito nada. De qualquer maneira…

Meu pai é quem vêem obviamente em mim, na minha eterna mania de fazer “Lairzadas”, na minha cabeça meio dura, na minha mania de levar canivete e lavar os pés antes de dormir. (E a prudência, meu Deus, a prudência!) Mas só esta semana pensei em duas coisas muito bacanas que minha mãe me ensinou.

Uma foi cortar couve. E eu nunca tinha me dado conta porque nunca tinha precisado cortar couve. Mas na feijoada de sábado, na casa da Fabi, o Amarildo me chamou num canto e falou: “Heloisa, dá um jeito ali que aquele trem que a Fabi tá cortando tá muito grande.”. Eu fui com todo o jeitinho e pedi pra ajudar, e ele disse “É, Fabi, eu falei pra ela que essa couve que cê tá cortando não tá prestando não!”. Aí eu tentei cortar fininho. Nem foi na mão que nem minha mãe faz, enrolando as folhas e cortando na horizontal, foi na tábua mesmo. Mas eu ensinei pruma americana o tamanho que tinha que ser e depois todo mundo elogiou. A Fabi refogou a couve comentando “olha só, eu tô reconhecendo quais fui eu que cortei!” e uma menina asiática deu os parabéns pela couve, disse que estava linda cortada fininho, e que isso não é fácil não, que ela sabe. Ela trabalhou no zoológico e tinha que cortar verdura prum pássaro, bem fininha, só assim que ele comia. A minha madrinha fala que a couve da minha mãe parece cabelo. A Ally, a americana que mora com a Fabi, disse que da próxima vez tenta do jeito certo, segurando a faca na horizontal.

A outra foi o respeito pelos livros. Eu sou insuportável com os meus livros. Pode até estragar um pouquinho de carregar na mochila, afinal “burro carregado de livro é doutor”, mas fazer isso que fazem aqui, nunca! Meu cabelo se põe em pé cada vez que vejo alguém grifando um livro com caneta ou com aquelas canetas coloridas. “Mesmo que o livro seja seu, ele sempre pode ser usado por outra pessoa depois.” Claro, o fato de eu ter usado livros da minha irmã em uma época em que eles estavam apenas começando a eliminar o formato com-espaço-pras-respostas também ajudou. Semana passada minha orientadora perguntou se fui eu quem marcou um livro que ela tinha tirado da biblioteca e me emprestado (marcado a lápis, forte, quase tudo, sem esperança de resolução via borracha), e eu tive o orgulho de dizer na lata: “não, isso eu não faço, porque minha mãe me ensinou”.

Putz. Terminei de escrever o post e lembrei que a Bíblia da minha mãe parece uma mistura de carnaval da Sapucaí com propaganda de cruzeiro em Miami. Mas Bíblia não conta, né?