Tia Zilah

Meu pai menino veio do interior para o Rio morar com uma tia cujos filhos já estavam crescidos. “Preciso de companhia”, ela disse. Eram todos galalaus e a única moça era a mais velha, metida com políticas. Para o assombro do primo do interior, queimavam-se papéis e livros do Partido Comunista no auge da repressão, com um lençol protegendo o relumejar da chama dos olhares dos vizinhos e a descarga funcionando a noite inteira para se livrar das cinzas. A minha tia Zilah leu os jornais diários e teve uma opinião sobre tudo até anteontem, quando faleceu no Rio, aos 94 anos.  Não encontrei, óbvio, nenhuma prova de que ela tenha sido do Partidão.

Descanse em paz, tia Zilah.

(Mulheres extraordinárias nascem de mulheres extraordinárias.)

Envelheço na cidade

Hoje este blog faz 9 anos.

Quem começou a escrevê-lo foi uma outra Maffalda que achava que já sabia bastante e sempre teve vergonha de escrever diários. O blog registrou minha vida abertamente primeiro, e depois de forma um tanto críptica, e nos últimos três anos muito falhamente. Nunca teve um tema, sempre foi meio umbigo, me rendeu alguns amigos, registrou bons e maus momentos, serviu pra paqueras, tentou não se envolver em celeumas, continua aqui. Não dá pra dizer que a chegada do twitter e do google reader foram legais para o bichinho. Migrei para o wordpress, troquei a bruxa do Nalon pela bruxa do Weno (amo as duas), mas escrever que é bom, ultimamente, necas de pitibiriba. Em parte porque fiquei mais discretinha, sem querer mostrar muito o que faço e o que sinto – contradição enorme, já que no twitter estamos todos nus e de remela.

Conto então que estou bem, morando perto dos pais num apartamento muito pequeno e quase organizado, cada vez mais praticando a tal da simplicidade voluntária, ajudando a organizar uns encontros com os amigos pra ouvir idéias legais, trabalhando num projeto temporário que reúne muita gente bacana e fazendo um curso que apareceu na hora certa. Mesmo estando efetivamente em falta, não me sinto em falta com os amigos e o namorado e os amigos do namorado. Tem uma sensação de encaixe que tem permeado tudo e é muito bem-vinda.

Nos projetos futuros estão alguns posts pra cá que nem prometo mais, como um sobre currículos e um sobre livros, misturando cada vez mais os assuntos. O curso vai render um trabalho final bem bacana sobre bancos de tempo, que eu vou detalhar mais assim que organizar as idéias. Isso vai sair em definitivo lá pra dezembro, mas devo falar bastante sobre o projeto a partir do fim de julho. Quanto ao Simplim, que foi minha empolgação de outrora, estou pensando em matá-lo ou encostá-lo e trazer os posts em definitivo para cá. Um projeto sobre simplicidade está sobrando na minha vida simples! Se alguém tiver idéias para postar lá ou estiver interessado em discutir mais amplamente sobre simplicidade voluntária, estou a postos e de ouvidos abertos.

Em suma, não me deixem só. Pode ser que eu escreva em mais de 140 caracteres de novo.