Tenho participado de fóruns de desapego e o que mais vejo as pessoas falando é “estou limpando o armário, vou fazer um bazar/bazar de troca”. A ideia em si é boa, mas fico pensando: não adianta nada falar em desapego se você vai continuar se comportando como a Guardiã de Tudo, a Tirana da Roupa Velha. Pegando emprestada a filosofia da Marie Kondo: aquela roupa já trabalhou por você, já deu o que tinha que dar. No fundo o que você quer é que alguém te dê dinheiro/gratidão/sorrisos sem fim por algo que você não quer mais. Ironicamente, quem está aprisionada é você que vai ter que trabalhar mais N horas (pense no trabalho que dá organizar um bazar ou fotografar/anunciar roupas) para poder, enfim, ter um pouquinho mais de espaço livre e minimalismo. Essas pessoas imaginárias que querem muito suas roupas, existe uma grande chance de elas não existirem. Você vai doar suas roupas para um bazar beneficente e talvez elas sejam vendidas a preço de banana pra gente que não liga para a marca. Talvez elas sejam doadas para pessoas pobres. Talvez elas sejam descartadas. E tudo bem. Mesmo. O argumento do desperdício, do meio ambiente, não me escapa, mas as coisas têm um fim. Tudo acaba. E de novo: tudo bem. O que salva a natureza não é ter um fluxo contínuo de coisas passando pela sua vida e alcançando o destino exato depois disso, como se você fosse a rainha da benesse. O que melhora o mundo é comprar menos, precisar de menos.
(dezembro/2015)
PS: O mesmo vale para outros objetos: livros, CDs, eletrônicos. E eu sou tão culpada disso quanto você.