Esconda um beijo pra mim

Você esquenta o resto de sopa no microondas, eu me enrosco no sofá agarrada no celular pra te fazer companhia enquanto você termina aquele trabalho, saio pra rua e volto morrendo de rir, ou então você vem conhecer minhas pessoas, a gente encontra alguém sem querer na rua e você se surpreende de como eu conheço todo mundo, andamos apontando estabelecimentos, aquele restaurante só aceita dinheiro, eu não provo nada muito doce mas peço jalapeño na primeira oportunidade, paramos pra comprar guloseimas estranhas, perdemos as contas dos cafés, você faz piada sobre o moço da padaria ter pena do seu café solitário, eu reclamo do frio e depois do calor, a gente sente sono sincronizado, você tem que comprar pano de chão pra conter o vazamento da cozinha, eu quero botar os livros em ângulo reto pelo menos, cabe vida nessa vida picotada, nada disso tem nome, vê se não some, cabeça, claro que não, bundona, beijo, até a próxima, tchau.

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16 toneladas

Certa feita eu arrastei um bonde por um certo colega. Não é que o rapaz fosse só, como dizem lá em Minas, “jeitoso”. Ele era bonito, engraçado e era interessante daquele jeito que costumam ser as pessoas que não querem saber da gente. E tinha um agravante dos mais graves: a voz dele. Era ele fazer um comentário qualquer naquela voz de clave-de-fá que chegava a dar um negócio. Cortando a história pra depois que o bonde do desejo passou e me deixou chutando latinha no ponto: ele casou com a namorada da época, estão juntos até hoje, têm filhos, aquela coisa linda margarina que eu fico feliz de verdade porque é isso, né, amor é desejar o melhor pro outro e tal. De vez em quando eles postam vídeos e a voz da moça é doce, doce, uma mansidão em outra oitava, e eu estou até hoje esperando eles gravarem uma radionovela.

Vintage Stereo Equipment --- Image by © Playboy Archive/Corbis
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