Ah, o amor!
Eu adoro assistir a comédias românticas e as pessoas nem acreditam. (Desculpa, Pedro, desculpa, Ana Claudia.) Sou como uma criança de 3 anos, querendo fórmulas repetidas para ver se o mundo funciona mesmo. A julgar pelas cenas que aparecem nas comédias, não funciona tão bem assim.
Tem sempre aquele momento mágico de alinhamento de nariz que o site TV tropes, que cataloga clichês de filmes/séries/quadrinhos, chama de “olhar sustentado“. Mocinha e mocinho se olham – de preferência depois de uma quase-queda ou uma confissão profunda – e descobrem que estão apaixonados.

Acho bonito porque sou uma romântica sem remédio, mas na real – o amor é isso?
Várias pessoas melhores que eu já tentaram escrever sobre amor ou estudar o que o faz, como a Helen Fisher. Tem duas palestras excelentes dela no TED: uma falando sobre por que a gente ama e outra contendo um estudo com pessoas de coração partido. “Deu trabalho para colocá-las na ressonância magnética, elas estavam em péssima forma, coitadas.” A Dra. Fisher fala que o cérebro fica lotado de dopamina, serotonina, o sexo ainda gera oxitocina e vasopressina, e é o baratod disso que gera o apego que a gente chama de amor.
Mas o que a gente chama de amor?
Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil. Mas namorado, mesmo, é muito difícil. (Arthur da Távola)
Paixão, tesão, apego, carinho, tudo isso a gente chama de amor. Tem também o amor mais difuso que a gente dedica à família, à religião e aos nossos “propósitos” (ó aí a palavra da moda). Mas na hora de dizer que ama, é só com quem alinha o nariz?
O amor está em tudo, e deveríamos ter amor ao próximo desde que o próximo não seja alguém com quem você esteja transando casualmente. Aí não – você só pode chamar de amor verdadeiro aquele que é por alguém com quem você tem um re-la-cio-na-men-to. Já tem gente jovem – jovem de que gosto, veja bem – falando sobre abolir essa hierarquia do amor. Laura Pires, te amo.
Outra coisa que me quebra é a ideia de que o amor romântico tem que ser pra sempre: “se você se separa e não continua amando aquela pessoa pra sempre, então não era amor”. Os antigos achavam que se você ama não se separa nunca, e as pessoas modernetes adotam essa crença pelo outro lado da moeda: tem que “continuar amigo”. Se não for assim, é porque nunca amou de verdade. Pera, os seis anos de relacionamento, parceria, cachorro que ficou doente, os dois filhos, a morte da avó… uma mentira? Enfrentamos tudo isso juntos e hoje não nos entendemos, é uma borracha retroativa? Eu não amei?
O que dizem pra gente sobre o amor é um grande gaslighting, é um constante “será que eu tô doida?” Putz.
Eu tenho pensado bastante nisso – sobre paixão, afeto, envolvimento, amor, tesão, e como essas coisas se misturam sem serem tudo um bolo só. O que faz a gente ter NRE violenta com uma pessoa e não outra, mesmo gostando muito dessa outra ou morrendo de tesão, como tem paixonite que dá pra curtir gostoso e passa rápido, e cisma que dói doída e dura anos? Mistérios.
Não é que você não amou e tava louca. Justamente porque você tava louca é que amou bastante, doidona das drogas que seu cérebro produz o tempo todo.
Pois levante daí, assista a uma comédia romântica (ou não romântica) e continue amando. É uma droga bacana.
Conta mais!
Como você tem amado? E o que você quer ver nesta newsletter bissexta? Responda a esta mensagem pra me contar.
(publicado originalmente no Substack e trazido pra cá em 13-mai-25)