Eu não sinto mais a urgência de escrever tudo o que me acontece no blog. Nunca foi muito assim, mesmo. Mas agora parece que descarrilhei, há muito que não escrevo.
Difícil é fazer a seleção, a auto-censura. Você só fica sabendo das coisas ruins, vai pensar que eu sou drama queen. Só as boas, vai achar que eu estou mentindo ou que minha vida é maravilhosa.
A vida de ninguém é maravilhosa. Difícil aceitar isso, mas é assim mesmo. “Problema todo mundo tem, minha filha.” Pequenos ou grandes, eles estão lá, e dependem mais da percepção que um mesmo (olha a estrutura emprestada do castelhano, de novo!) tem dos próprios obstáculos.
E escuta a parábola perfeita: Alice tinha diminuido tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor.
Ah, e tem também o eterno paradoxo do vizinho: a grama dele é mais verde, a galinha mais gorda, e nós vemos a cachaça que ele bebe mas não os tombos que ele toma. E como somos todos vizinhos de todos, fica difícil saber quem tem a razão.
Tudo isso para dizer que quando eu estou chateada, odeio que passem a mão na minha cabeça: “tudo vai ficar bem” ou “podia ser pior”. Quero que reconheçam que está tudo uma droga, que vejam as coisas do meu ângulo. É claro que quase nunca acontece, porque a estratégia de resolução de conflitos das pessoas geralmente pára por aí… Hoje usei a tática do “podia ser pior” com alguém que veio reclamar comigo. Não devia. Mas em minha defesa tenho a dizer que minha cachaça é muito invejada, e dos meus tombos ninguém fala. Estou cansada.