Professor Paulo Rosa, meu melhor professor de português:

E, ainda que o adulto não passe de uma criança que deve dinheiro, a vida nos proporciona uns momentos bem interessantes. A vida é uma espécie de mão que afaga e apedreja; o choro é véspera do sorriso; a alegria de anteontem escorreu pelos dedos de agora. Viver dá o maior trabalho. E a vida foge a nossa definição como fugiria das nossas mãos um pássaro. Talvez um beija-flor (desses que brotam no pátio do Sion como borboletas azulzonas ou aquele monte de avencas). Apesar de parecer um pássaro sem asas, o beija-flor faz o movimento de abrir e fechar de asas típico dos pássaros. Para cada vez que fecha, tem uma vez que abre. E eu vejo vocês agora, no exato e silencioso instante entre o abrir e fechar. O momento em que beija-flor finge que parou de bater as asas, num capricho quase feminino.

Estejam à vontade, que o abrir de asas de hoje não é o primeiro nem o fechar será o último. Haverá muitas outras vezes: um com nome de monografia de fim de curso, outro com nome de primeiro emprego, outro com nome de mestrado, outro com nome de defesa de tese…

Estejam bem à vontade, sabendo que todo fim, no fundo no fundo, não passa de um começo que ainda não ganhou forma.