Minha sorte, mesmo, é que Lavoisier também se aplica a sentimentos, amizades, tudo. Eu tenho uns momentos adolescentes de vez em quando, saibam desculpar. Voltamos à nossa programação normal.

O Zamorim avisou e vim conferir: a interface nova do Blogger é de-tes-tá-vel. Não é nem daquele tipo “ah, você se acostuma!”, é ruim mesmo!

Seu olhar é simplesmente lindo

Mas também não diz mais nada

Menino bonito.

O ser misterioso tem um olhar que não é transparente. O ser misterioso jamais fala de si mesmo, menos ainda começa frases com a palavra “eu”. O ser misterioso tem um passado obscuro ao qual só se refere, vagamente, se perguntado. O ser misterioso não fala dos pais. O ser misterioso tem irmãos, mas não se sabe quantos são. O ser misterioso tem uma idade que é adivinhada pelas suas referências culturais. O ser misterioso pode saber o que você pensa, mas sempre deixa a dúvida. O ser misterioso tem fãs, mas não manda foto autografada. O ser misterioso preza por sua privacidade. O ser misterioso também não escreve emails, e quando o faz não escreve mais de três palavras. O ser misterioso não tem namoradas e não aceita ser apresentado a ninguém, mas também não tem namorado. O ser misterioso sempre se faz de bobo ao receber pequenas cantadas. O ser misterioso ignora olhares e bilhetes. O ser misterioso confunde. Fujamos do ser misterioso.

El ser misterioso tiene una mirada que no es transparente. El ser misterioso jamás habla de si mismo, todavía menos empieza frases con la palabra “yo”. El ser misterioso tiene un pasado obscuro al cual solo se refiere, vagamente, si preguntan. El ser misterioso no habla de los padres. El ser misterioso tiene hermanos, pero uno no sabe cuantos. El ser misterioso tiene una edad que es adivinada por sus referencias culturales. El ser misterioso puede saber lo que uno piensa, pero siempre deja la duda. El ser misterioso tiene admiradoras, pero no envía fotos ni autógrafos. El ser misterioso es celoso de su privacidad. El ser misterioso tampoco escribe emails, y cuando lo hace no escribe más de tres palabras. El ser misterioso no tiene novias y no acepta ser presentado a nadie, pero tampoco tiene novio. El ser misterioso siempre se hace el tonto al recibir pequeños piropos. El ser misterioso ignora miradas y notitas. El ser misterioso confunde. Huyamos del ser misterioso.

Se eu já postei esta música desculpem, eu errei. O dia de postá-la era hoje.

Call Waiting

lyrics & music: Marie Daulne

I just want to tell you

I

O dia sem fim (ou: algunas acontecimentos de ontem)

– Um amigo ficou sabendo que a bolsa dele não vai ser renovada. Ele só soube disso porque precisava de uma carta pra renovar o visto. Se não fosse por esse pequeno detalhe e o fato de ele estar indo pro Brasil em uma semana, ele só ia saber disso na véspera de perder o emprego.

– Alguém que eu amo demais da conta me ligou muito triste. Eu, claro, chorei de cá também.

– Teve um churrasco na casa do cara que está perdendo o emprego. Quando chegamos lá, ele tinha derrubado um saco de carvão inteiro em cima do sofá da sala.

– O livro que eu deixei no escaninho de uma outra brasileira aqui na universidade desapareceu, escafedeu-se.

– Um outro amigo nosso foi ao churrasco levando um colega de trabalho dele. Lá pro meio da festa o cara disse que nós tínhamos que ter vergonha de fazer graça com a cara do nosso amigo e foi embora, deixando todo mundo com o olho arregalado.

– O dono da casa teve um momento deprê e chorou um pouquinho na varanda.

– O Gastón estava cansado e queria ir embora. Quando eu finalmente concordei, ele descobriu que tinha deixado as chaves dentro do carro.

– E eu não trouxe as minhas chaves de casa pra pegar as chaves reserva.

– Mas eu deixei uma janela de casa aberta e ele conseguiu entrar. Quando ele voltou (de carona, claro), abriu o carro e descobriu que a bateria tinha acabado.

A bateria finalmente foi recarregada e voltamos pra casa.

O Blogger está falando que vai mudar de cara. Já estou nervosa.

A minha história não termina aqui. Ela é um pedaço de hélice, sob certos ângulos tem-se a impressão de que apenas começa, mas não: vem de tempos imemoriais. Mesmo o pedaço que testemunhei às vezes parece tão longo que até me canso. E a hélice se estende a perder de vista, pois quem pensa em um fim não sabe do que fala.

O único problema é que ter consciência de que a hélice gira sozinha não me ajuda muito. Primeiro, porque se ela vai girar mesmo surge a preguiça – eu? – de tomar caneta e papel e desenhá-la. E, depois, ainda que tenha a minha ajuda, controle eu não tenho sobre para onde serpenteará a danada.

É por isso que o meu primeiro impulso é encolher-me e ficar assim, quietinha, e, esperar o mundo passar lá fora, tomando a precaução de espiar pela beirada do cobertor vez por outra.

I have heard what the talkers were talking…. the talk of the

beginning and the end,

But I do not talk of the beginning or the end.

(Whitman, Song of Myself, trecho)