Ainda bem que eu não fumo.

Ainda bem que eu não fumo.

Porque se eu tivesse amigos que fumassem, eu podia começar a achar uma distração mais ou menos bacana, sabe, alguma coisa para aliviar o nervosismo das mãos e a angústia oral, e começar a filar cigarros em festas, bares e afins. Aí um dia, num acesso de ansiedade, eu compraria um maço para mim, o primeiríssimo, meio com vergonha sem saber direito que marca. Também teria que comprar um isqueiro. Mas aí eu perceberia que o isqueiro não funciona direito, ou que eu não me familiarizei ainda com o polegar oposto. Eu iria então tentar acender o cigarro no fogão, chamuscando todo o meu cabelo, uma coisa vergonhosa. Além disso, iria perceber o gosto de guarda-chuva na boca e que, mesmo sem conseguir sentir cheiro direito, as minhas mãos e minhas roupas cheiravam a cigarro, e a casa tinha um cheiro insuportável de motel barato (dizem). Aí eu ia lembrar de todas aquelas propagandas horríveis, e das pessoas da minha família que fumam e envelhecem mais rápido, e dizem que eu sou tão nova. Ia ter medo do que o meu pai diria, ele que parou de fumar há 34 anos. Ah, e só para ter certeza, ia olhar no espelho e ver o quão horrorosa eu fico fumando, uma cara patética chupando um papel com brasinha.

É por isso que eu não fumo.