Oi, Vó.

Entrei no metrô cansada. Linha laranja, linha vermelha, linha verde. Na linha verde olho, olho de novo. Vó Totônia. Os mesmos cabelos, castanho-esbranquiçados, descendo pelas costas num coque que desmanchou. Os mesmos olhos, o mesmo jeito de olhar que a gente vê nas fotos. A saia reta até a canela, o casaquinho por cima da blusa, meias e chinelos de couro. Ainda bem, se eu visse havaianas amarelas ia morrer do coração. Eu já estava ali, com o olhinho raso, tentando não encarar, ela puxa os óculos de leitura e começa a ler jornal. Tinha que ser jornal? Tinha. Tinha que ser o Washington Post com uma foto sem mais tamanho do Einstein na contracapa que estava virada pra mim. Comecei a chorar que nem uma doida. Chegou minha estação, desci, ela desceu, estava andando logo atrás de mim, apertei um pouco o passo, chorando, olhando para trás de vez em quando, vencendo a vontade de falar com ela, falar o quê, meu Deus? “você parece a minha avó!”? Fui para a saída oeste, ela também veio caminhando devagar, cheguei à rua, soluçava, fingi que esperava um carro para vê-la ir na direção do ponto de ônibus. Andei mais, solucei mais, enxuguei os olhos, passou.
Hoje eu vi minha avó no metrô.