Saí por aí um dia com uma bolsa grande cheia de palavras. Eram de todos os tamanhos, desde os menores suspiros e gemidos de duas letras até big words e longas reflexões. Vinham todas emaranhadas, se agitavam pesando enquanto eu andava, até que resolveram flutuar sobre minha cabeça qual fumaça de trem, faziam redemoinhos, eu andava mais rápido e aí era a cabeleira de Berenice (ou Clarice?). Os pombos da praça e as estátuas mesmo paravam a prestar atenção na mulher cujas palavras até faziam vento nas folhas. Parei perto do metrô num subsolo para tomar um café e elas se aquietaram um pouco ao encontrar o teto. Não por muito tempo. Quando sentei se moviam junto à pequena mesa como cães malcriados e eu já exasperada porque as mesmas benditas que tanto frisson faziam não me acudiam à boca nem para conversa pequena, deixando meus olhos sós sem substância a ser adivinhada. A mesa quase virava com o guaraná e o café e elas finalmente dormiram a meus pés aninhadas feito agora cão guia perfeitamente adestrado, não me toquem, estou a trabalho. Fiquei um pouco mais ali, colhi palavras novas, fiz um novelo, botei de volta na bolsa. Vim pelo metrô em paz e agora tenho um pequeno cachecol.