De tudo o que eu ainda não vi

A la Prill, a la Puig,
mas filme contado – sem Gladys

A ponte, luzes ao longe, o Curinga num grafitti, reflexos na janela do ônibus. Lembra dum futuro, o homem tateando palavras na tela do computador, rodeando. Ela segura de si pergunta é isso mesmo? Olha que a ilusão de mim é melhor que eu e você também não deve ser tudo isso. Ele: tenho. Ela repassa mentalmente o ciclo, as unhas, a depilação em dia, o tempo de lavar os cabelos, blefa: então motel agora. Mudez de dígitos, sente o computador quase tremer, mensagem no celular com o endereço. Ela pensa nas drogas que são boas pra ansiedade mas decide que ansiedade é bom, está guardada há tanto tempo a tensão sexual entre os dois. Não sabe bem o que vai dizer. Joga um cd na bolsa.

Ele chega primeiro e manda um torpedo do 408. Ela sua diante da porta. Ele abre e mais esquisito que o beijo de cigarro e o abraço pela cintura é aquele antequarto de mesa posta.

O sexo não é fluido nem deveria. É errático, é sofrido, tem espaço pra melhorar. Os olhos ficam vermelhos e o corpo relaxado, os pés meio dormentes, ninguém precisava de drogas afinal.

Repassam os episódios passados, o que você disse, o que eu pensei, meu namorado na época. Ela pergunta dos filhos, ele disse que não tem, você sabe disso. -Sei. Quer ter? -Por que pergunta? -Sempre pergunto. Não quero, não quero me envolver com homem com relógio biológico.

Brinca com as mãos dele, calos. Mergulha nos olhos dela. Ele é exatamente imperfeito como ela imaginava, de uma virilidade quarentona desajeitada. Ela é quase melhor que as mais novas, com suas rugas de quarentona risonha.

Roupas de volta, porta da rua, despedida incerta. Ela entra no ônibus, olha pela janela e rabisca um outro futuro.