Outro dia eu disse no twitter que se eu morrer (reparem no “se”), o que tenho escrito de melhor está guardado em emails a determinados amigos. Um deles é o jovem Bruno, com quem hoje troquei as seguintes frases de um diálogo sumariamente editado e com grifos posteriores:
B: Como vai você, Heloística?
M: Eu vou bem, Brunildo. O trabalho tem muito trabalho, a vida tem muita vida e o amor tem muitos amores. E a gente leva assim. Sem ginástica, sem unha feita, mas com alegria.
B: Então, eu também ando longe da academia, dentro da biblioteca segunda-quinta, e dentro do copo sexta-sábado. Descobri a boemia na hora errada da minha vida.
(…) (segue conversa sobre viajar juntos pra Europa) (seguem considerações sobre a bibiloteca em contraste à Europa) (…)
B: Olha eu dando asas à sua imaginação de cigana desaventurada.
M: No momento eu QUERIA ser uma cigana desaventurada mas estou muito ocupada chateando a mim mesma com uma adolescência tardia rosa-chiclete. Parece engraçado mas é um saco, é tipo uma tpm, mas não é.
B: Uma hora ela chega. Isso eu tô aprendendo. Aliás, esse é o grande projeto desse ano pra mim, virar adulto e aproveitar a adolescência que eu não tive.
Tem gente que me arranca a palavra exata e leva de mim o que tenho de mais sentido, profundo, engraçado ou espirituoso. É um desafio que amo, e me apego a esses fragmentos como antes me agarrava aos meus papelitos. Gosto de tê-los nestas gavetas quase-físicas ao invés de meras lembranças etéreas atreladas a mobiliários outros – uma mesa-de-bar, uma cama-sem-cama, um sofá-com-chá-e-filme – onde sim, ouço e falo e vejo e toco mas em compensação cambaleio sem o timing do sentido preciso e sem o wit de seriado e filme antigo, como se quisesse ser uma Katharine Hepburn sub-equatoriana e falhasse miseravelmente.
Por escrito surgirão ainda muitos posts como este, pensados no ônibus ou cuspidos num bloco qualquer, e frases de efeito no twitter. Ao vivo, porém, continuarão reinando l’esprit de l’escalier e o facepalm. Os roteiristas estão de férias.
Para ouvir: Words
Para ver e ouvir: Parole parole
Para ouvir e achar estranho: Parole parole (Zap Mama & Vincent Cassel)