Estou tendo dificuldade de explicar, mas é mais ou menos assim: você começa uma conversa com um homem e, especialmente se essa conversa for online, lá pelas tantas você percebe que não é exatamente com você que ele está conversando. O diálogo é com um amálgama entre você e uma personagem de uma história qualquer que ele tem na cabeça.
Dependendo de quem é o cara, a história da linha cruzada pode ser um enredo de revista pornô, uma história mal resolvida com uma ex ou até caso enrolado com a mãe. Um ou outro costuma jogar uma trama de revista Sabrina, mas é mais raro. No clube da finasterida, o galho pode ser crise de meia-idade ou problemas no casamento.
As dicas de que o portal da realidade alternativa foi ultrapassado são um certo descompasso entre as linhas narrativas, o uso de uma ou outra palavra fora de lugar, e um pedido estranho pra gente gemer de repente no fim da conversa (no caso dos fãs de Sabrina, basta um suspiro e eles ficam satisfeitos).
É desapontador para qualquer uma que carregue a esperança de ser considerada pela pessoa que é, a aparência que tem e as idéias que desenvolve. O negócio é que a gente não consegue sair incólume. Agora que mais ou menos consegui descrever a situação e tenho certeza de que algumas pessoas se reconheceram, espero que alguém me explique como acordar os pobres acometidos desse tipo de ilusão ou sair com fineza desse tipo de armadilha.
Hã… Você pode começar a agir como uma terceira personagem, que não é nem você nem a que ele está imaginando. Ou tentar revidar e tratá-lo também como um personagem. Não que eu ache que isso vá resolver a situação, mas pelo menos vai causar confusão suficiente para mostrar que algo está fora da ordem.
(Em alguns casos, admito, isso apenas estimula o comportamento do sujeito e piora a situação.)
@Marcos, sou mais sumir de cena… Ser personagem cansa muito.
Que comportamento bizarro. Isso é realmente comum?
Acontece de vez em quando…
Olá! Meu nome é Richard Strongarms, tenho 47 anos e sou jardineiro. Assim, posso cuidar da natureza, e fazer um melhor uso dos meus músculos, já que o meu psicológico foi abalado há cinco anos atrás… Meu deus, eu não gosto nem de lembrar daquela época em que eu era um Neurocirurgião/Pediatra/Oncologista e Veterinário. Ao sair da faculdade, aos 17 anos, eu achava que estava preparado para o mundo, pois todos sempre disseram que eu era um prodígio! Mas eu estava enganado… O mundo é muito mais cruel do que eu imaginava.
Fosse, talvez a inocência com que eu enxergava as pessoas, fossem os traumas vindos de uma infância sem poder desfrutar da companhia da minha mamãe, coitada, que morreu no parto, eu não soube superar tudo que aconteceu exatamente no dia do meu aniversário de 42 anos…
Naquela época, eu pensei que a minha calvice (que recém tinha começado), era o maior dos meus problemas. Por isso foi tranqüilamente ao hospital infantil onde eu era voluntário para tratar criancinhas carentes – e seus animaizinhos de estimação. Foi, então, que pela primeira vez em 25 anos de medicina, perdi o meu primeiro paciente. E seu animalzinho.
Procurei os dois pelo hospital, e não os encontrava em lugar nenhum. Procurei nos seus quartos, nas salas de atendimento, no pátio, na cafeteria, e nada de encontrá-los durante todo o dia.
Resolvi, então, ir para a casa mais cedo… Estava tão desolado por ter perdido os dois, que somente os braços, a pele sedosa, os seios durinhos e as ancas ardentes de minha esposa, poderiam me confortar e afastar de mim o sentimento de ser o pior médico do mundo.
Mas então, eu cheguei em casa e ouvi barulhos. Vi um homem estranho caminhando da sala ao quarto e pensei: “Um ladrão! A essa hora da tarde!” – Corri para enfrentá-lo. O peguei desprevenido, e pensando apenas na segurança da minha esposa perfeita, o nocauteei. Após a confusão, escutei uma voz vinda do quarto:
“Querido, o que aconteceu?”
E no momento em que eu ia dizer para que ela chamasse a polícia, notei que aquela, não era a minha esposa. Na verdade, aquela não era a minha casa…
Depois de apanhar da polícia, os médicos do presídio me diagnosticaram com Alzheimer, e eu não fui preso, devido a minha condição. Hoje, eu entendo que, em muitas vezes – quando estamos conhecendo novas pessoas – ficamos um pouco desorientados.
Ainda não sabemos o que falar; muitas vezes, não sabemos quais tópicos são permitidos ou não… e dentro desses não permitidos, quais receberão apenas um “não quero falar sobre isso”, e quais levarão a um bloqueio sumário.
Por isso, tentamos preencher essas lacunas, com as nossas experiências, gostos e visões do mundo. Esperamos que essa atitude, e essas histórias, gerem pistas, façam a outra pessoa se identificar e revelar o que existe na parte que apenas imaginamos.
O exagero, na maioria das vezes, ocorre porque a pessoa do outro lado da conexão, não está mostrando muito bem a sua realidade. E por isso tentamos usar o nosso passado, para superar a desorientação do presente. =P
Lucas/Richard: você é louco! Seja bem-vindo.
Em nome de nós dois, eu agradeço =D