Na parede da memória

É elástico o tempo. A memória também. Eu tenho fama de ter boa memória, mas não é verdade. Minha vida se desenvolveu em tomos, em caixas, cada volume de anos se fechando empoeirado na mudança de fase. Assim, os últimos dois anos me parecem repletos de acontecimentos e reviravoltas, enquanto os sete passados em Campinas se embolaram num marasmo indistinguível e os da universidade americana se misturam aos da ONG.

O que faz as pessoas pensarem que tenho boa memória é a lembrança de nomes, de frases, de uma ou outra anedota, e dos gestos. Por outro lado, não consigo me lembrar de como passava o meu tempo, ou de como fui parar nos meus relacionamentos (o que eu estava pensando, meu d’us?), ou de eventos que deveriam ter sido marcantes apesar de terem sido 15 anos atrás.

Por isso o projeto tantas vezes adiado de compilar a história dos meus pais, estudar a fundo a biografia deles. Onde meu pai trabalhou, o que minha mãe pensava quando era solteira, o que lembram dos seus avós, o que sabem de suas cidades, e o que esperavam do futuro.

Peraí, essa sou eu. O que eu esperava do futuro e, principalmente, o que eu quero agora? Saber o que se quer é quase uma falta de educação e outra, maior ainda, dizê-lo. (maio/2011)

Mão carregando mala. Some rights reserved by Peter Kurdulija