Esta é a minha primeira carta neste formato, e eu estou escrevendo num domingo.
Era assim que ia começar minha primeira newsletter, quando eu abri a conta no Substack em maio do ano passado. Tinha que se chamar “16 meses pra escrever qualquer porcaria”, né?
Larguei mão de me obrigar a escrever no domingo porque essa já é um dia pesado pra mim. Não, não é o capitalismo falando, essa seria a resposta fácil. Domingo me lembra a música dos Trapalhões e do Fantástico, mesmo eu tendo me livrado da tv há 16 anos. Mais que tudo, domingo me lembra as DRs domésticas da adolescência, então ficou decidido que domingo é chato e minhas DRs têm que ser curtas, leves, multilaterais e sem dia marcado. Combinamos que eu vou escrever a newsletter quando escrever, tá?
“É curioso como tenho lido cada vez mais e cada vez menos”
Essa foi uma frase que a Bia me mandou como resposta da última newsletter – e explicou: “passo os olhos pelos textos dos posts por horas e não consigo terminar um livro.”
Eu não poderia me identificar mais. Tem muita gente falando sobre isso ultimamente, como o Alex:
“As pessoas que realmente querem ler leem o tempo todo. Estão lendo agora. Aproveitam cada cinco minutos no metrô ou na fila do banco para ler mais duas pagininhas, como um fumante ansioso que aproveita qualquer oportunidade para ir fumar um cigarrinho lá fora.”
Eu já fui assim. Onde foi que desandou? Definitivamente não posso colocar a culpa na pandemia. Talvez as redes sociais? Sei lá. Agora lendo o texto do Alex me dei conta de que criei uma regra de leitura contraproducente pra mim mesma, que é ler bastante de uma vez, seja lá o que isso signifique. Vou voltar ao passatempo-cigarrinho e deixar de ser pretensiosa.
Para firmar compromisso, compartilho com você dois livros que estou lendo a passo de tartaruga, ambos de não ficção, um no Kindle e outro de papel. Conto quando terminar:
1. The Vagina Bible, da Dr. Jen Gunter. A primeira vez que ouvi falar dessa médica foi num artigo criticando a corrente de “bem-estar feminino” capitaneada pela Gwyneth Paltrow. Ela arrasa com a atriz, dando argumentos científicos e também explicando os fatores culturais que levam mesmo as tendências supostamente mais moderninhas e titelê a se apoiarem na ideia de que o corpo feminino é imundo. Além de ser uma delícia de ler – porque ela é sarcástica pra caramba – a Vagina Bible traz muita informação surpreendente, falando até das vaginas de homens trans e neovaginas de mulheres trans. Infelizmente nem este livro nem o outro dela sobre menopausa estão disponíveis em português. Bem bacana. Tô no comecinho ainda.
2. Mulher, roupa, trabalho: como se veste a desigualdade de gênero, de Mayra Cotta e Thais Farage. Fiz um curso com a Mayra Cotta este ano e, ao procurar sobre ela, encontrei este livro sobre um assunto que me interessa demais. Fala-se pouco – e se naturaliza muito! – o tal do “grooming gap”. Cada gênero tem suas obrigações com roupa e beleza, com as quais se gastam tempo e grana, e a gente sabe quem leva a pior nessa. Estou curiosa para seguir a leitura porque duas perguntas não me largam. Uma delas é como essa discussão de desigualdade de gênero no vestir/arrumar-se se estende quando falamos também de idade, raça, classe social, tamanho corporal, deficiência e orientação sexual. A outra é como nós, como indivíduos e como parte dos nossos ambientes de trabalho, podemos influenciar esse estado das coisas. Será que vale a pena seguir o fluxo e continuar o “jogo jogado”, roupinha linda, salto alto e maquiagem, para ter vantagens num sistema que funciona assim? Ou a gente vive a vida do jeito que melhor entende, fazendo outras escolhas, as nossas escolhas, para que as coisas mudem, ainda que pouco a pouco? Vamos ver o que Mayra e Thais acham.
E ainda tem uma pá de livros na fila de espera, melhor eu terminar logo!
Tudo preparado pra festa da democracia?
Já baixou seu e-título? Não deixe para a última hora, no dia não vai dar pra baixar.
Já sabe que dá pra justificar pelo app?
Já conhece o bot do TSE no WhatsApp?
Já sabe onde vai votar?
Já escolheu quem você vai eleger? (Te ajudo: Quilombo nos Parlamentos, Vote LGBT+, Meu Voto Será Feminista, Estamos Prontas, Campanha Indígena)
Já fez sua colinha?
Já parou pra pensar como vamos estar neste domingo à noite?
Eu espero estar cansada (pois mesária) e feliz.
Domingo é chato mas eu espero que este seja bom.
Calma que eu ainda estou aprendendo a formatar esse negócio aqui.
Pra falar comigo é só mandar email.
Beijo!
Publicado originalmente no Substack, importado para o blog em 18-fev-25.