De anteontem pra ontem tive um sonho louquíssimo, que incluía pessoas que conheci em vários lugares. Estavam todas hospedadas na casa da Luiza em Praia Linda mas ninguém sabia que a casa era dela. Sonho comprido e cheio de detalhes. Depois que eu acordei e contei o sonho pro Gastón me lembrei de uma história de família. Reza a lenda que naquela casa de praia da prima, que tinha infinitos sobrinhos, era necessário escrever bilhetinhos do tipo “não se esqueça de fechar a geladeira”, no melhor estilo república, e ninguém nunca sabia ao certo quantos estavam hospedados. As pessoas se conheciam na praia e perguntavam “onde você está hospedado?” ao que a outra respondia: “ali”. “Ah, é? Eu também!”. Daí que minha prima abriu uma pousada. Ótimo, não? Qualquer dia eu vou.

Uma amiga um dia me disse que não acreditava em almas gêmeas. Só acreditava em pessoas que funcionam juntas.

A minha mãe, que é muito católica, me ensinou coisas que não se ouvem na igreja com muita freqüência: que a gente veio ao mundo pra ser feliz e que até Jesus era bom mas não era bobo.

Por isso me surpreendo quando percebo que as pessoas (eu aí incluída) estão mais dispostas a acreditar em palavras do que reparar em ações e acabam sofrendo.

Quem é homem de bem não trai

O amor que lhe quer seu bem

Quem diz muito que vai não vai

Assim como não vai não vem



Eu nunca idealizei o príncipe encantado. Eu queria mesmo era a amizade perfeita. E sofro pra caramba de perceber que nem a minha amizade com a Marcia é perfeita, simplesmente porque isso é impossível. E parece que quanto mais a gente sonha mais faz um buraco, depois o buraco fica tão grande que a gente fecha os olhos e põe qualquer coisa no buraco pra tampar. Existe uma pessoa que eu amava de paixão perdida, e continuo gostando, com quem eu não falo há 2 anos e 8 meses. Essa pessoa influenciou todo o meu jeito de ser, desde o gosto musical até os gestos, se bobear até a minha caligrafia. Foram 11 anos sendo unha-e-cutícula, como nós brincávamos, pra acabar comigo decidindo que assim eu não queria, que assim estava mal, que se não era pra ser recíproco e saudável não ia ser de jeito nenhum. Ficou uma falta daquelas, uma saudade enorme, mas isso vai se dissipando e eu tento não ter raiva.

Não é fácil… Estou sendo cínica? Provavelmente. Mas acho que assim é melhor.

Words of love, so soft and tender

Won’t win a girl’s heart anymore

If you love her then you must send her

Somewhere where she’s never been before

Worn out phrases and longing gazes

Won’t get you where you want to go, no!

Words of love, soft and tender

Won’t win her

You oughta know by now

You oughta know, you oughta know by now

Words of love, soft and tender

Won’t win her anymore

O último post fazia muito mais sentido quando ainda estava dentro da minha cabeça, pero bueno

Ela se casou hoje. A Lindona. Aquela menina gorduchinha, que se apresentou com um sotaque tão paulista, Marrrrcia, e perguntou meu nome. Igual ao da mãe dela, ela disse.

Meus pais foram à festa. Liguei para o celular da minha mãe e pedi pra falar com ela. Não consegui falar nada, só chorei. Falei com o marido dela também. “Obrigado por estar aqui com a gente”, mesmo pelo telefone. Voltei a falar com minha mãe. Ela também chorou. Um desastre. Agora escrevo com as lágrimas caindo pelo computador afora.

Mas o que eu queria? É como quando éramos pequenas. Mesmo se ela dormisse lá em casa duas noites seguidas, mesmo quando já não tínhamos mais brincadeiras que inventar, eu chorava aos borbotões quando ela ia embora. Aos sete anos, comecei a estudar piano só porque era na casa dela, a professora era a minha xará. Depois já não estudávamos juntas, mas pelo menos tínhamos essa desculpa. E nossos passeios. Ir ao teatro com os pais de uma ou de outra. Fazer balé juntas. Fofocar, agora que já não estávamos na mesma classe.

A distância foi só aumentando. Mas só na geografia, não no coração. Uma no Rio, outra em São Paulo. Muitas férias. Lá, cá, no Espírito Santo. Eu contava os dias para podermos estar juntas, falar tanto sentadas à janela ou antes de dormir. Ou depois de, como às vezes acontecia: eu contava um caso compriiiido, e depois ia ver ela tinha dormido no meio.

Um dia fui a São Paulo e ela me disse que a família estava se mudando para Sorocaba. Tínhamos 16 anos, íamos fazer o terceiro ano. “Eu não quero ir pra lá.” Fez um escândalo, se trancou no quarto, chorou. Mas foi. E adorou.

E foi lá que ela conheceu o que hoje, agora, há umas duas horas, é o seu marido. Certinho que só ele, ou melhor, que só ela. Gente fina. Eu estou feliz por eles, juro. Mas não consigo parar de chorar. É como se ao mesmo tempo eu desejasse tudo de bom e tivesse uma dor de quem teve um pedaço arrancado. Dou-me conta agora de que a distância geográfica importa, sim. E de que os nossos caminhos vão se bifurcando cada vez mais. Seremos amigas, sim. Eu sei que ela gosta de mim, e eu gosto dela também, mais do que as palavras podem expressar. Só que agora eu sei que talvez nossos filhos não cresçam juntos, talvez não sejamos capazes de manter contato pra sempre. Apenas o tempo dirá.

De qualquer maneira, terá valido a pena. Ela é seguramente uma das pessoas mais importantes na minha vida. Ensinou-me coisas pequenas (se você mantém o papel alumínio no chocolate não lambuza os dedos) e lições inesquecíveis. Que família da gente não é só a família de nascimento. Que uma amizade não é feita só de semelhanças e coincidências (ter nascido no mesmo lugar, ter dado o primeiro beijo na mesma semana), mas também de diferenças (de comportamento, de posicionamento religioso, de opinião em vários assuntos). Que o apoio dos amigos não precisa ser incondicional, só precisa ser sincero. E que momentos bons estarão sempre marcados, onde quer que estejamos.

——-

Os fatos: a Marcia, que não é mais gorduchinha, é um mulherão de alta e loira, nasceu no Rio, como eu. Mudou pra Sampa aos 4, eu mudei aos 5, e foi lá que nos conhecemos, no colégio Santa Marcelina, Jardim D. Na segunda série ela foi pro turno da manhã, mas nossos pais já tinham ficado amigos por minha conta e nós nunca deixamos de nos ver. Eu mudei de professora de piano lá pelos 9, 10 anos. Hoje eu detesto piano, não me lembro de mais nada. Quando eu fiz 12 anos fui morar no Rio. Ia a São Paulo de vez em quando, e um ano depois começamos a nos ver nas férias quase sempre. Passamos uns bons verões em Guarapari. Ela mudou pra Sorocaba e estudou Direito. Eu mudei pra Campinas e estudei Física. Casei-me com o Gastón em 2000, e ela foi madrinha. Hoje moro nos Estados Unidos, estou em semana de provas e perdi o casamento. De todos, esse era o que eu não podia ter perdido…

College Park, MD, EUA, 3 de maio de 2003. 7:55, horário de Brasília.

E o mais legal disso tudo é constatar que é um povo mais civilizado que o nosso, que tem maior carinho conosco do que vice versa, é como um irmão mais velho que admira o mais novo, mas o mais novo tem prazer em contestar o mais velho pra se autoafirmar.

Na mosca, Dudu!

George Bush teve que ser avisado pelos seus agentes secretos de que não estava diante de seus ídolos. Decepcionado, o presidente comenta: “Pensei que finalmente seria entendido. Mas bem que eu tinha desconfiado daquele azulzinho…”.



Crédito ao Gastón, pela ótima sacada…

(Agora em inglês, porque merece:)

President Bush had to be warned by his secret agents that those were not his TV idols. Very disappointed, the president declares: “I thought I would finally be understood. But, in hindsight, the blue one looked suspicious…”.

Pérolas dos filhos de brasileiros que não aprenderam português:

– Que bagunça!

– What is that word, “bagu…”?

– Bagunça.

– Bagunça. What does that mean??

– Mess.

– My mom says that a lot. She comes to my room and says “Bagunça!”.

– Yeah, mine too.

Outra – de outro cara:

– “Bosta” means shit.

– Really? My Dad says that all the time!!!

1947 Berna – Suiça “Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso – nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro…há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu…Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões – cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você – respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você – não copie uma pessoa ideal, copie você mesma – é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma”. Clarice. A Lispector. (Os grifos são meus.)



Está quase do tamanho do cabelo da bruxinha aí do lado.

PS: Detalhe que só percebi depois que postei: a gravatinha!

Faltam duas semanas para terminarem as aulas. Nesse tempo eu tenho que: terminar dois relatórios (pra sexta), fazer um dever de casa (pra terça), terminar um projeto (pra outra semana), arrumar o laboratório (pra amanhã), fazer um outro projeto (pro dia 22), estudar pra dois exames (na semana do 22), fazer as outras lições de casa que aparecerem no meio. Eu também tenho que lavar roupa (pra ontem), fazer compras (idem), ligar pros Eibl, comprar o presente da Marcia e do Rubinho, comprar aquele software que eu tô querendo, ir à reunião dos brasileiros (quarta que vem e dia 21), mudar os quartos (passando a cama e a cômoda pro quarto menor sabe-se lá como). No verão eu vou terminar o inventário químico do laboratório, trabalhar desesperadamente, ler artigos, começar a escrever a tese, sair com os Eibl, sair com os Stanziola, talvez viajar, continuar com a reunião de brasileiros, pegar uma cor. Pro semestre que vem eu preciso arrumar meus papéis, descobrir que matérias vou fazer, comprar os livros, ver se alguém tem o material do curso pra emprestar.

Eu preciso não enlouquecer.