Saudade.
Saudade de alguém que eu não tive muita oportunidade de curtir. Agora estou longe. Este mundo é muito doido, mesmo.
Tinha pensado nessas coisas há pouco tempo. O que eu não gosto de morar aqui é que eu não vejo as mudanças. Eu sei que minha família está bem, mas dá uma dorzinha por dentro saber que o mundo não pára por minha causa (ê, megalomania) e que as coisas continuam mudando sem a minha presença. Um dia eu vou voltar e vai estar tudo diferente…
É isso que acontece também com os amigos.
Mudar dói.
Saudade. Saudade.
Dudu acertando em cheio, mais uma vez:
Você tem consciência de que ama alguém quando constata que o tempo perde o significado e você parece conhecer a pessoa desde sempre. Quando as suas experiências anteriores parecem ser um compêndio de fábulas que te prepararam para esse momento. Quando você quer contar essas fábulas para quem você ama e dar boas gargalhadas ao final. Quando o mundo parece pequeno para e o tempo, infinito. E com um tempo infinito, imagina quantos mundos gostaria de conhecer e curtir com essa pessoa…
É isso aí. Todo o resto foi ensaio, agora é pra valer.
Falei com a Pat outro dia. A mulher agora tem um escritório e um site (em obras). Chique pra chuchu. Muito bom conversar no telefone como nos velhos tempos, perguntar de pessoas antigas e trocar abobrinhas.
– Maffalda com dois f’s? Tu é muito besta, mesmo.
Homework. Homework. Homework.
Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de Baudelaire…
Lembra que eu falei das séries novas? Pois é, o personagem principal de uma delas é a cara do Pablo, igualzim…
Contabilidade.
11 anos de amizade. 2 colégios. 2 patotas diferentes. Dezenas de meninos. 5 ou 6 namorados. 3 irmãs. 4 rolos compartilhados – A, B, C e D. 1 viagem pra Guarapari, 2 pra Cabo Frio, 1 pra Formoso. Rio 92, 100 anos do JB, 1o. Fest-Arte. Formatura do colegial. 1 casamento, 1 funeral (eu não fui, não sei se ela foi). Inúmeras tardes passadas naquele apartamento. Muitos cartuns da Radical Chic. Umas tantas edições da Capricho, algumas lidas no teto do prédio, sem grade de proteção. Muitos dias de praia. 1 caso de rubéola, 1 de tuberculose. 2 ou 3 festas de 15 anos. 4 professores de geografia, 3 de física. 1 cola em prova de história flagrada. Reggae. “I can see clearly now, the rain is gone…” Muita torcida em torneios de judô. 4 primeiras vezes. Uma promessa quebrada: “nunca mais vou te fazer chorar, tá?”. Outra promessa quebrada: “vou jantar e depois te ligo”.
E agora?
O professor número 1 tem um sistema de notas que é um nojo e dá dever de casa pra caramba. As unidades inglesas me dão cada tropeço que só vendo.
A professora número 2 está dando uma revisão de química e eu não tô revendo porcaria nenhuma, e ela tem um jeitão de ser dessas imprevisíveis, não sei o que ela vai cobrar na prova.
O professor número 3 fala inglês meio mal (Yoda puro) e dá uma aula muito vaga, enquanto o livro está lá, cheio de detalhes e fórmulas. A quem eu devo escutar?
A burocracia pra mudança de visto tá rolando ainda.
Não vou receber dinheiro agora mas já tenho que começar a me envolver com o projeto de mestrado, lendo pelo menos no livro-texto da professora #2 alguma coisa sobre o assunto que vou trabalhar.
Sábado tivemos uma visita peluda – primo do Mickey, quem sabe – e estamos horrorizados. Resultado: mudança daqui a menos de 15 dias. Minha casa já não era um primor de arrumação, agora ferrou de vez.
Agora só na próxima prestação, ok? Tenho homework!
Põe prestação nisso, meu caro!