Relaxa, gata!

(Este texto é da programadora Katie Cunningham e foi publicado em seu blog pessoal, The Real Katie, e no BuzzFeed. A tradução é minha. Aceito correções e revisões.)

Recentemente, me perguntaram por que uma mulher que adora programar largaria esse ofício. Sério: houve um momento da minha vida em que eu decidi que programar era algo que eu só faria em privado. Só agora estou devagar voltando ao mercado.

Eu amo programar. Faço isso desde antes da puberdade. Fazia isso quando mal tinha dinheiro pra pagar o servidor. Faço isso nos fins de semana e noites, e estou ensinando meus filhos como fazê-lo. Gastei milhares de dólares para ir a conferências para poder aprender mais. Por que eu largaria uma profissão em que sou paga para fazer o que amo?

Em resumo, eu cansei de ouvir “relaxa”.

Tooga/Getty Images via BuzzFeed
Tooga/Getty Images via BuzzFeed

Essa indústria carrega um machismo sutil. Eu quase prefiro machismo aberto, porque pelo menos você consegue apontá-lo. As farpas sutis são geralmente descartadas como algo com que eu não preciso me preocupar. É uma piada! Afe. Por que você é tão sensível? Eu só fiz uma piada sobre você ter que estar na cozinha!

Relaxa.

As farpas também não são sempre piadas. Às vezes, são tentativas de me empurrar para um papel tradicionalmente “feminino”. Como mulher, eu fui a única pessoa do grupo a quem pediram para organizar um lanche (supostamente, esse é um trabalho indigno para homens). Eu fui a única a quem pediram para tomar notas numa reunião

Eu não pertenço a você

Segunda-feira passada o Twitter avisou que não estava mais conseguindo mandar emails para a minha conta Maffalda do Gmail. Quando tentei logar, descobri que fiquei trancada pra fora por atividades suspeitas na minha conta. O Google está tentando me proteger, provavelmente porque usei algum aplicativo não confiável. Até agora não consegui recuperar a conta. Estou bastante nervosa, mas tenho amigos prestativos a quem já expliquei a questão.

Isso me fez pensar que tenho que ficar mais afiada na questão das senhas e sistemas. Eu simplesmente esqueci a senha do email Maffalda porque redireciono tudo para Heloisa (é, esse é meu nome e meu outro endereço).

Com essa história, também achei as mensagens que recebo periodicamente do Google* sobre as contas cujo email de recuperação é o meu endereço principal. Além dos endereços dos meus pais, da minha irmã e mais alguns criados por mim, já foram criados nada menos que TRINTA E OITO endereços de gente que nunca vi mais gorda nem mais magra na vida. E essas pessoas todas acham que vão conseguir recuperar a senha um dia dando meu email.

Isso me deixava num dilema ético muito grande, pois não conseguia achar um jeito de desvencilhar minha conta dessas novas sem efetivamente deixar os usuários (em sua maioria novatos) trancados para fora de seus emails.

Discípula de Madre Teresa de Calcutá que sou, fiz uma mensagem padrão que envio cada vez que sou avisada de uma nova conta criada em meu nome:

Provavelmente seu nome é Heloisa, como o meu. Por favor leia este email com atenção, pois ele tem a ver com a segurança da sua conta de email.
Você está recebendo esta mensagem porque, ao criar a sua conta do gmail, você usou o meu endereço (…@gmail.com) no formulário de recuperação de senha.
Isso significa que se um dia você perder sua senha e tentar recuperá-la, o google vai mandar uma mensagem para mim. E eu não vou poder fazer nada quanto a isso, nem vou poder informar isso pra você.
Isso é um problema gigante de segurança das suas informações!
Para sua segurança, por favor visite a página de opções da sua conta e troque o seu email secundário (“secondary address”) por um outro endereço de email SEU, ao qual você tem acesso, como seu endereço do msn, hotmail, yahoo, ou o endereço do trabalho.
Desta forma, minha conta de email e a sua vão ficar completamente separadas para sempre. 
https://www.google.com/accounts/UpdateAccountRecoveryOptions
Obrigada.

Pelas minhas contas, isso funcionou umas 4 ou 5 vezes. Para não dizer que sou santa de tudo, uma vez uma garota me respondeu “Não vou trocar” e eu não resisti: entrei na conta dela e troquei a foto do Orkut para a foto do burro do Shrek. A conta do Orkut tinha o endereço de msn, então fiz todo um malabarismo para a garota recuperar a senha através do hotmail, não sem antes deixar um baita sermão registrado nos scraps. A menina tinha só onze anos, mas não me arrependo. Cumpri meu papel de adulta. (Ou não! :))

E então descobri, agora há pouco, que o Google arquitetou uma solução para o meu problema. O nome do serviço é DisavowAccount. Disavow pode ser traduzido como negar, desmentir ou retratar, mas apelidei o serviço carinhosamente de t’esconjuro! que é pra ficar mais divertido.

Basta entrar na tela de recuperação de senha de qualquer serviço Google, digitar o endereço que não é seu (annyheloisalinda, por exemplo, afemaria). Você vai ter que passar por um captcha e digitar o seu email (aquele que é seu, só seu, e ninguém tasca). Imediatamente você receberá uma mensagem com duas opções de link: um para trocar a senha do email (no caso de o usuário ser uma pestinha pré-adolescente) e outro que diz “se esta conta não é sua, clique aqui”, com uma chave única para desvencilhar seu endereço para sempre.

Achei finíssima a solução. Agora posso voltar a ser a Maffalda?

(*)Your secondary address, ...@gmail.com, is associated with: O seu endereço secundário, ...@gmail.com, está associado a: 

Tenho tudo planejado pra te impressionar

Meus mais sinceros conselhos para quem está redigindo ou reformando o próprio currículo.

Disclaimer: Nada aqui é conselho profissional. É tudo chute.
Siga por sua conta e risco.

1. Não escreva “Curriculum Vitae” em letras garrafais no alto. Coloque apenas o seu nome em destaque, fonte tamanho 14 ou 16, no máximo. Se você não fez alguma coisa muito errada no conteúdo ou na formatação, ninguém vai achar que é uma receita de bolo. (Também não coloque seu nome como uma imagem jpg colada no arquivo. Sim, já vi isso.)

2. Não coloque foto. A não ser que a vaga seja de modelo ou apresentador, a não ser que a empresa peça explicitamente, não é bom tascar aquela 3×4 no currículo.

3. Brasileiro, solteiro, 25? A sua idade pode ser deduzida mais ou menos pela época em que você terminou (ou vai terminar) a faculdade. Uns 99,9% das pessoas que se candidatam a vagas no Brasil são brasileiras (mencione se você não é). E isso de colocar estado civil e número de filhos eu acho o fim da picada. Você está insinuando que ser solteiro é melhor ou pior que ser uma mulher casada em idade fértil ou um pai de 3 filhos?

4. Coloque seu email, telefone de contato e endereço. Coloque também as redes sociais de que você participa, principalmente se estiver se candidatando a um cargo relacionado a marketing digital, mas dê uma conferida antes nas informações que estão em aberto nas suas redes. Você não vai querer mostrar todas as suas fotos zuper zexy ao recrutador nem incluir um twitter “com cadeadinho”. Ah, deixe de fora o número do RG, CPF, e nome dos seus pais, não é ficha na polícia. Também é desnecessário escrever “email:”, “telefone:” e “endereço:” antes de cada informação. Isso vale também para as outras partes do currículo, é dispensável escrever “empresa:”, “cargo:”, pois em geral a formatação e a inteligência do recrutador dão conta do recado.

foto por fashionablygeek.com
Ou você pode fazer uma camiseta...

5. A formação deve ter datas de conclusão (ou previsão) em ordem cronológica reversa. Não precisa incluir o ensino médio se já faz algum tempo que você se formou. Não se esqueça de incluir a pós e cursos relevantes.

6. Sua experiência profissional também deve aparecer em ordem cronológica reversa, com o último emprego primeiro. Nome da empresa, cargo, data de entrada e saída (mês e ano) e uma descrição breve. Preste atenção à linguagem da descrição: escolha se quer usar verbos no infinitivo, substantivos, verbos em primeira pessoa no passado (fica esquisito, mas é questão de gosto), e fique firme para não parecer uma salada. Quanto às descrições, aproveite esse espaço para falar de habilidades que você adquiriu em outras posições que podem ser úteis na sua busca atual. Também é importante ressaltar mais as posições mais recentes.

7. Nas informações adicionais, inclua seus conhecimentos de softwares, línguas (se mentir tem castigo!) e outras atividades, tais como atividades voluntárias, intercâmbios e projetos paralelos.

8. Se tiver feito muitos freelas, você pode escolher entre incorporá-los na seção de experiência profissional ou colocá-los numa seção à parte.

9. Algumas pessoas gostam de colocar um resumo no começo do currículo com as qualificações profissionais. Tem que ser curto. A vantagem de ter uma seção assim é que você pode adaptá-la para diferentes vagas.

10. Capriche na formatação. Mantenha coerência na formatação ao longo do currículo: se usou itálico para cargo e negrito para o nome da empresa faça isso para todos os itens, por exemplo. Sem frescura, um tipo só de fonte, mesmo espaço entre os parágrafos, um espaço um pouco maior entre as seções, no máximo duas páginas, mesma indentação em tudo, bullets todas do mesmo tamanho, etc. Não deixe o Word decidir por você, mostre quem é o chefe.

11. Revise mil vezes. Corrija o português. Mande para um ou dois amigos e peça a opinião deles.

12. Se vai imprimir, imprima num papel branco e limpo, nada de coloridos ou marmorizados. Se vai mandar por email, salve em pdf (o CutePDF serve para isso). Além de ser um formato mais bonito, você não corre o risco do software avacalhar a formatação do doc (na melhor das hipóteses) ou mostrar o arquivo com todas as suas correções (na pior).

13. PelamordeD’us, não mande o currículo anexado no email sem escrever nada. Descubra o nome da pessoa que está recrutando, mande umas linhas simpáticas dizendo que seu currículo está em anexo e que você está disponível para a entrevista, algo não muito formal mas também não muito desleixado. Não estrague a primeira impressão.

14. Confie em você e nos seus revisores. Se parecer mais conveniente inverter a ordem das seções para mostrar as suas melhores qualidades primeiro – freelas mais interessantes que as experiências, ou uma formação acadêmica que tem pouco a ver com a sua carreira atual – vá em frente. E esteja preparado para mandar o currículo no corpo do email, só em texto, se isso for solicitado.

Boa sorte!

Este post, como diz lá o disclaimer, é quase um desabafo e está repleto de opiniões pra lá de pessoais. Agora que eu já estou mais leve, dê seu palpite nos comentários também. Aproveite para contar qual foi o currículo mais estranho que você já recebeu ou enviou.

Leia e vai saber o que é encanto

Renda-se aos livros eletrônicos!

Mesmo que você não tenha um dispositivo dedicado exclusivamente à leitura de ebooks,  recomendo fortemente baixar o aplicativo do Kindle. Há versões para browser (o Cloud Reader), PC, Mac, iPad, e para espertofones iPhone, BlackBerry e Android. Esse aplicativo permite comprar livros na Amazon e importar livros de domínio público de sites como o Projeto Gutenberg.

O pulo do gato fica por conta do software Calibre. Ele faz a mágica de transformar todos aqueles PDFs de artigos que você guardou para ler um dia (e textos em .txt, .odt e .html) em ebooks que podem ser lidos confortavelmente no seu celular. Funciona também como gerenciador de pdfs, renomeando todos por nome do documento e autor, uma boa pedida para tirar os arquivos “54225.pdf” dos recônditos das pastas esquecidas.

Com esses dois aplicativos você nunca mais vai ter desculpa para não ler!

O bônus para quem tem um Kindle é o aplicativo SENDtoREADER. Ele manda o conteúdo de qualquer página web ou post do Google Reader diretamente para o seu dispositivo, usando o email *@free.kindle.com. O conteúdo já chega formatado e sem propagandas ou banners.

Agora o problema é só não perder o ponto para descer do ônibus e não tropeçar na rua.

Vou pedir um Café pra nós dois.

Por que eu apoio e participo do Café 22.

Todas as vezes que eu tento explicar o que é o Café 22 para alguém, saio da conversa achando que não me expressei direito. E olha que eu já tentei de tudo. “TED de quintal”, “um evento de palestras”, “amigos trocando conhecimento”, “palestras de 15 minutos sobre qualquer coisa”, “compartilhamento de paixões”. Fica sempre uma distância entre o real e a descrição. Pelo visto, não sou só eu que penso assim. Já vi várias pessoas comentando sobre o espírito, o clima, a energia do Café 22, que são todas características intangíveis do evento.

Depois da última edição do Café 22, sábado passado, cheguei à conclusão de que o meu café vem em três xícaras, três ângulos, três facetas.

A dimensão utópica é a descrição do Café 22 que aparece no site e a maneira como em geral tento descrevê-lo: um evento de compartilhamento de idéias, conhecimentos e paixões. É um movimento que segue as tendências atuais de formação de comunidades por interesse, on e offline. “Idéias novas e assuntos pelos quais nossos amigos são intensamente apaixonados.”

O lado prático do café se revela ao constatar que somos um conjunto de pessoas que de alguma forma faz esse evento acontecer. A mecânica das inscrições, a divulgação, a produção do evento, o coffee break, os detalhes técnicos, os contatos com patrocinadores que gentilmente cedem espaço ou equipamentos, a produção de conteúdo e de um blog. Tudo isso pode ser colocado no currículo de qualquer um de nós e nos evidencia como uma equipe, um coletivo, uma referência.

A terceira faceta é a afetiva. Nada substitui o prazer de se verem tantas amizades e tanta intimidade surgindo que talvez não fossem acontecer em outro lugar. Surgem piadas internas, contatos profissionais, dicas imperdíveis – um curso bacana, um tênis diferente, um livro pertinente – e o senso de uma verdadeira comunidade.

Eu tenho um orgulho danado de fazer parte desse tal de Café 22.

Leia mais, veja os vídeos, venha para o nosso ou faça o seu. Garanto que você vai gostar.

Você não está entendendo nada do que eu digo

A moda são infográficos. Eu detesto o nome infográfico, mas confesso que adoro gráficos em geral. Poder olhar para os dados e interpretá-los com a mente analógica (e não a interface digital, como seria uma tabela) é uma coisa linda.

Porém há que se tomar cuidado com os números. Eles fingem que são certinhos, imparciais, mas estão a serviço de qualquer um que queira usá-los para convencer alguém de alguma coisa. Quando a parcialidade se une à desinformação (ou má formação matemática dos jornalistas e do público em geral), a coisa se torna até perigosa.

Gatinhos, por exemplo… Um infográfico sobre o Facebook e outras redes foi publicado pela Advertising Age e um blog “não-oficial” sobre o Facebook republicou o gráfico, que contém algumas informações interessantes sobre países que mais usam o Facebook e o Linkedin e também sobre quem declara ter gatos no perfil. Olha só:

O artigo no blog que reproduziu o gráfico afirma:

O infográfico da Advertising Age contém algumas pérolas fascinantes, incluindo: (…)

  • 86.5 porcento dos perfis femininos indicam ter gatos, mas apenas 13.5 porcento dos homens têm felinos.

Será verdade? Mais de 86% das mulheres têm gatos? Na verdade isso se deve a um erro de interpretação de quem escreveu o texto. Se eu digo que tenho 100 amigos e 10 têm gatos, dos quais 9 são mulheres e 1 é homem, eu posso dizer que 90% das mulheres têm gatos? O certo seria dizer que 90% dos que têm gatos são mulheres.

Viu como gatinhos números podem ser perigosos?

Portanto, antes de sair repetindo estatísticas por aí, pense criticamente na informação que está recebendo. Senão acabaremos tendo uma moda de “desinfográficos”.

Mas seja educado, diga “não, obrigado”

Recebo muitas mensagens que na verdade são para minhas xarás. Coisas inacreditáveis: orçamentos, trabalhos de faculdade, anúncios de reuniões, fotos de casamento. Este é o email que eu mando em resposta, usando o recurso “canned response” do gmail. O parágrafo “se você enviou” eu só mando na segunda vez que a pessoa infringe com lista aberta. Pra envergonhar.

Olá!

Este endereço de email não pertence à Maffalda que você queria contactar.

Isto significa que a sua mensagem não chegou à minha xará.

Se você enviou esta mensagem para uma lista aberta de amigos, isto também significa que agora todos eles pensam que eu sou a Maffalda que vocês conhecem, e eu provavelmente vou receber emails de outras pessoas por causa disso. Esta é uma das razões para sempre usar a linha de endereçamento oculto (bcc: ou cco:) quando enviar mensagens a um grupo grande de pessoas.

Por favor verifique o email correto da Maffalda que você conhece, reenvie a mensagem, e retire meu endereço da sua lista.

Muito obrigada,

Maffalda
Rio de Janeiro, RJ

Tem também aquele parente que sempre manda mensagens edificantes, piadinhas e correntes. Nesse caso, o método é um pouco mais delicado:

[Fulana],

Esqueci de comentar que fiquei sabendo do vestibular do seu filho, você deve estar orgulhosíssima! Eu fiquei! [Pedaço em que você comenta amenidades e estabelece um contato simpático.]

Vou adorar receber notícias suas de vez em quando, mas quanto aos emails encaminhados (piadas, mensagens inspiracionais, correntes [escolha o tipo favorito de spam da pessoa]), eu preferiria ser excluída da lista. A maioria deles eu nem abro, para prevenir vírus [porque estou sem tempo/porque o email é do trabalho/porque não gosto]…

Um beijão,
Maffa.

Aí hoje eu fui abrir meu email ligado à conta do msn e eis que, no meio de todos os vírus e spams eu vi algumas mensagens de amigos que realmente pensam que eu uso aquela joça. Alguns mandam piadas, então dei um jeitinho de insinuar que isso não será tolerado na minha conta principal:

Queridos,

Por favor não mandem email para …@hotmail.com, só uso esse endereço para o msn e abro as mensagens umas duas vezes por ano! Lá só tem spam, vírus, piadinhas, correntes e ppts, não tenho o menor interesse nessas coisas!

Estou escrevendo para dizer que a única conta que eu leio com freqüência é esta, …@gmail.com. Notícias, fotos, lembranças e declarações de amor serão muito bem vindas.

Beijos,
Maffalda

Etiqueta, delicadeza e canja de galinha não fazem mal a ninguém…