Muita coisa já foi dita sobre o livro de Alex Castro, Mulher de um homem só. A narradora, que é estranhamente onisciente, fala de um tempo indeterminado no futuro onde muito já aconteceu – três gerações adiante? Também disseram, e com razão, que as neuroses dela são legitimamente femininas, revelando a compreensão que o autor tem das mulheres – árdua pesquisa, deve ter sido. Li também por aí alguém querendo saber por que as duas mulheres do livro nem se matam nem se comem. Seria outro livro, e nesse caso o título mudaria totalmente de sentido.
Gostei do estilo intimista da narradora, do vaivém dos fatos, afinal, ninguém se senta num boteco e conta tudo em ordem cronológica. Já fui Carla, já fui Júlia, já tive uma Júlia e se bobear fui até Murilo. Mas nao é esse o pulo de gato do livro. O grande lance é que até os que não são versados em armações triangulísticas se identificam com o livro porque MDUHS é sobre intimidade. Não amor, não ciúme, não relacionamentos. Intimidade.
A intimidade entre amigos de adolescência que faz com que um ature as idiossincrasias do outro e a outra saiba as taras do um, se eu mexer meu pé assim ele fica bem à sua vista, vou abaixar aqui pra pegar uma coisa no chão mas vê se não olha pra minha bunda, claro que eu quero que você olhe, tá bobo?
A intimidade entre marido e mulher que faz o controle mais fácil e simula aquilo que chamam de amor plácido, querido, vamos batizá-las, sim, querida, a madrinha será aquela que você não gosta, e sua mãe se intromete tanto.
A intimidade entre inimigas cordiais, fica quieta e mexe no meu cabelo, or causa dos santos a gente beija as pedras, não sei muito bem como me livrar de você, não quero seu mal mas por favor suma do mundo.
E depois as intimidades pequenas entre madrinha e afilhada, a outra amiga da adolescência, a mãe de alguém próxima, a própria mãe numa intimidade incômoda que geral palpites infelizes.
No fim fiquei achando que faltava à Carla um pouco mais de intimidade com outras pessoas, ou com um terapeuta, não sei. O final suspenso me diz que um dia a coisa muda, devagar, porque tudo muda se alguém muda. Mas a essa altura do campeonato todo leitor já tem intimidade com os personagens e sabe adivinhar o que acontece depois. Leia.