Cuide de você – Sophie Calle

Maffalda:
acho que vou dormir
sozinha
menina, depois marcamos um chopp pra eu te contar da expo
fiquei tão puta
Prill:
li ontem sobre essa exposição na Bravo
fiquei… car****o
mas puta? conta só um pedacinho
Maffalda:
ah.
mulheres.
sabe sex and the city?
sabe como às vezes o cara tem um defeito e as mulheres esmiuçam e amplificam
e acabam destacando o pior dos homens para verem a amiga que “merece coisa melhor” continuar sozinha?
sabe a histeria de achar que não precisam fazer nada
Prill:
uma? um?
Maffalda:
mas os homens têm que ser perfeitos?
o cara manda uma carta
Prill:
sim, sim
Maffalda:
que não é nada de mais, talvez um pouco evasiva, “ele não está a fim de você”
e chamam ele de cachorro pra baixo
só uma ou duas falam coisas sensatas
se fosse o contrário
se fosse uma mulher escrevendo a carta e uma expo sobre isso
seria ultra machista
eu ficaria ainda mais ofendida
sei lá, acho que a gente vive numa histeria coletiva onde
ser um homem hetero é uma coisa muito difícil
muito complicada
Prill:
porra… demais essa sua impressão
nossa
nossa
o Rafael está te apoiando baseado na Bravo
Maffalda:
fui vendo e fui ficando cada vez mais irritada
bufava, quase bati pezinho
(“porque essa seria uma reação super madura, Maffalda”, disse o moço)
Prill:
eu também achei exagerado. gostei da ideia, mas fiquei um pouco desconfiada
Maffalda:
a idéia é boa, tanto que mexeu
mas pô.
Prill:
receber uma carta de adeus é um tema muito bom
Maffalda:

que mulherada mais corporativista
Prill:
mas a coisa me pareceu reunião de mulheres pra falar mal do cara
Maffalda:
pois é
“ele não te merecia”
porra
essa é a pior
pior que isso só se o cara disser isso, porque aí em geral é verdade
Prill:
nossa, muito, muito bom mesmo saber isso que você viu
vou reler a carta daqui a pouco
Maffalda:
leia e depois me diga
já não se pode mais quebrar corações em paz.
ô vida.
Prill:
(me pareceu muita exposição da própria vida, dum modo que ultrapassa o que eu gosto da vida como arte, do cotidiano como arte. ficou… ahm… um pouco suzana vieira?)
Maffalda:
hahahaha
bom, posso postar isso no blog?
não digo pra ninguém que você terminou comigo por msn
Prill:
terminei?
bah, a mulher já tinha feito isso
claro que pode, eu fico pavão pracacete
Maffalda:
:*
então tá!
Prill:
fico feliz
🙂

PS: Para mais sobre a dificuldade de ser homem, veja o Dan Savage falar sobre caras hetero. (Em inglês, nsfw.)
Update: Atualizei o link do vídeo porque ele foi tirado do ar no canal original. Provavelmente por causa dos palavrões, quem sabe? (junho/2013)

7 Replies to “Cuide de você – Sophie Calle”

  1. Sem opinião formada sobre a Sophie, ainda vou ler tudo sobre essa exposição… mas sobre o diálogo acima, eu assino embaixo. Pra dizer verdade, relações interpessoais são mto complicadas hoje em dia, todo mundo cheio de ressalvas e explicações prontas para justificar as atitudes. E com as mulheres ganhando força, os homens ficam com o papel de sempre, o do vilão.
    Beijão!

  2. olá. fui na exposição e curti. não achei a sophie oportunista… (mas isso não significa que a mulherada não seja).

    se ela se expos demais e usou disso p se promover? isso é óbvio. mas pra que serviriam as histórias da vida senão p isso?
    essa desilusão poderia ter feito ela se matar, escrever um livro, entrar na aula de pintura ou mudar o corte de cabelo.
    com artista, foi inspiração pra ela. se tivesse um twitter, seria um tweet…

    concordo quando vcs falam do drama e de todo feminismo que pode rolar contra o cara. ele traiu e tal. e foi covarde em não assumir olhando no olho dela. essa coisa é bem de mulher: ficar falando mal de homem, como se elas fossem sempre sinceras e verdadeiras no que falam e fazem. é mto fácil falar mal e exigir, sem tentar compreender. (isso qd o cara é legal, senão são dois vivendo na falsidade pra sempre e isso resolve tudo.)

    sobre a exposição, na verdade, poucas foram as mensagens “pessoais” p sophie. ela mandou p atiradora de elite, p revisora, p criminologista, p tradutora. algumas só fizeram isso como trabalho, pq foi o que ela pediu – e esses os que mais gostei! as outras, claro, fizeram papel de amiga, como a adolescente que mandou sms dizendo: “ele se acha”.

    enfim. se a arte é o que se eterniza, o pé na bunda da sophie que começou de forma literária e terminou numa música da Feist tem chance de tocar alguém desiludido daqui uns séculos.

  3. maffalda… eu sempre fui um homem hetero mt mulherzinha… vc leu meu livro… 🙂 e outro dia eu fiz um comentario politicamente incorreto, digamos, pra uma amiga querida e ex namorada, e perguntei, vc acha q sou um canalha porco chovinista?, e ela passou a mao no meu rosto e disse, “nao, alex, eu soh acho que vc eh um homem hetero… e acho que vc devia se deixar ser um homem hetero mais vezes… eh masculo e bonito, e tem tao poucos homens heteros de verdade por aih…” e eu achei aquilo uma das coisas mais lindas e carinhosas que uma mulher jah me disse! 🙂

  4. Menina, estou aqui por conta da sua última tuitada. Ontem até estive no seu blog dando uma fuçada mas não li esse post. Sabe que vi uma matéria sobre essa exposição no multishow e me lembro nitidamente que pensei… expor a vida pessoal é arte??? Expor um recalque é arte desde quanto? Aquilo ali pra mim não soou como superação ou transformação de nada, pelo contrário. Vi um absoluto ressentimento e falta de humildade. É muito fácil se colocar na posição de vítima ou se achar perfeita e superior como se nada pudesse ser mudado em sua personalidade. Isso é soberba demais pro meu gosto. Cada pessoa tem uma cabeça e consequentemente uma visão sobre o outro. Ainda acho que ‘colocar-se no lugar do outro’ uma ótima tática pra viver em harmonia e pra se descobrir de verdade. Mas mulher é assim.. poucas sabem levar um fora, esbravejam até não poder mais. rs

    Beijos.

  5. Acho engraçado você definir o trabalho da artista com a sua visão sobre ele e só se resumir a isto, quando é exatamente a intenção da artista que o trabalho seja ambíguo e provoque equívocos de interpretação. Sophie Calle wins.

    Bem, quanto a minha visão, acho que um trabalho destes numa inversão de gêneros seria fantástico e o trabalho em si não seria sexista, tanto quanto este não o é. Agora dentre os componentes que formam a malha das interpretações sim, podem haver mulheres(ou no caso da inversão de gênero, homens) histéricos, sexistas, ou não, muita projeção, com certeza… Mas a essência de um trabalho destes não é histérica, nem mesmo sua natureza em si é suficiente para denunciar o seu criador(a).

    (Notinha menor ainda e maldosa: O ex da Sophie sim, parece bem histéricozinho. Só o fato dele ter se exposto em retorno, acho que foi uma bela vingançazinha. Pois conhecendo quem é o homem da carta e sua história, contamina completamente a degustação da exposição. Ela só faz sentido como a análise de uma carta ‘anônima’, mesmo.)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *