Mas que nada

“Largou tudo para…” é uma frase bem clichê que é muito usada no jornalismo em três tipos de história: quando a pessoa resolve viver uma vida simples, quando vai trabalhar no terceiro setor, e quando decide colocar um relacionamento à frente da carreira.

Parece até que as situações anteriores (“contrárias”?) são *o certo*, *a realidade* e são vividas absolutamente sem renúncias e sacrifícios.

Nas matérias sobre vida simples, tem que enfatizar bem o “estilo de vida abastado” a que a pessoa renunciou, que é pra provar por A+B que é escolha mesmo, senão é só pobreza. “Juro, gente, ele é rico, mas escolheu viver como pobre, olha aí.”

Estou esperando ver no jornal a história de Marisa Pereira, que vivia num apartamento de dois quartos, dava aula em um projeto social e era feliz com seu marido, e “largou tudo para” trabalhar numa multinacional. Já pensou?

Ou, como disse o Marcos:

“Fulano de Tal, até dois anos atrás um bem-sucedido artesão em palha e cultivador de jilós de Conceição da Serra, largou tudo para se tornar executivo de multinacional em São Paulo. ‘Perdi em saúde e qualidade de vida, mas agora ganho muito dinheiro. Para mim, valeu a pena’, garante o ex-capiau”.

(Esse negócio de dar importância às palavras é um horror, tenho que parar com isso.)