Outro dia eu disse ao Gastón que gostaria de morar na Argentina, não fosse a crise. É que me chateia o fato de ele conhecer tanto mais sobre a cultura e os costumes brasileiros do que eu conheço sobre a Argentina. Ele conhece Salvador, Rio, Curitiba, Campinas, São Paulo e até Muriaé – eu conheço Buenos Aires e Pilar. Ele morou cinco anos no meu país, e eu no dele fui só visita. Ele me pede pra fazer quindim e é flagrado assobiando sambas antigos, e a maior parte dos nossos cds é dele – e de música brasileira.

Não que essas coisas façam muita diferença num casamento de uma carioca que não samba e não chia com um argentino que não dança tango.

Eu até conheço a língua, pois meu espanhol está mais para argentino que qualquer outra coisa. Sei um monte de ditados, mas minhas gírias são daquelas que perderam a validade em 97. Gosto de doce de leite Gandara, locro, empanadas e chocolinas. Ouvi o cd da Maria Elena Walsh e vi a Tortuga Manolita. Sinto falta do café com medialunas. Adoro minhas bombachas de campo. Tenho saudades da Ana Monteiro.

Mas foi só aqui nos Estados Unidos que eu vim a conhecer mais argentinos, e no começo era estranho ouvir uma conversa inteira com o sotaque que me acostumei a considerar só do Gastón (isso sim é que é romântico!). Aprendi mais sobre a comida, a música, até aprendi danças tradicionais (chacarera). Surpreendi-me com o fato de nossa turma argentina ser mais coesa do que a brasileira. Isso em parte tem a ver com os Stanziola, Vero e Henry, que são os anfitriões perfeitos. Na casa deles participei, pela primeira vez fora de Pilar, de uma roda de mate (chimarrão). E eles trouxeram pra mim o mate (cuia) e a bombilla. Agora estou curando a cuia pra poder usá-la, mas já comecei a tomar mate como uma louca. Estou ficando viciada. Ainda não aprendi direito os meandros da coisa, tem que dar umas batidinhas de cabeça pra baixo, esperar 3 minutos, dar 3 pulinhos, essas coisas.

Mas eu aprendo. Afinal, tomar mate ao pôr-do-sol ouvindo Mercedes Sosa faz com que em um cantinho de mim me sinta mais próxima de entender o que é ser argentina.