Bancate ese defecto

no es culpa tuya si la nariz no hace juego en tu cara.

Querida,

está na hora de você seguir o rumo que esse seu nariz aponta e viver a vida cheia de vida que você merece.

Relutei em escrever, porque tantas vezes antes ouvi suas reclamações sobre seu relacionamento e tudo mais, tantas vezes te apoiei no seu trabalho e fui ignorada, que já não sei se de fato as coisas não estão bem ou se as confidências só servem para me manter perto quando você assim o quer.

Pois desta vez as minhas tripas te ouviram diferente, embora o cérebro ainda ache que você não sabe bem aonde vai. A energia que eu te via gastando para manter as coisas no que você acha que são seus devidos lugares agora parece que vai partir em flecha para causar mudança. Como te disse ontem, adoro te ver preparando a revolução.

Claro que digo isso em interesse próprio. Adoraria te ver mais solta pelo Rio e pelo mundo, te apresentar às pessoas, conversar olhando seus olhos e não manter essa puta amizade epistolar. No mundo em que eu vivo há espaço para pessoas cativadas e cativantes mas não para gente em cativeiro, mesmo conformadas. Queria que você visse o lado de cá.

Se dói mudar? Tive a pele arrancada a cada nova vida e não me arrependo de quase nada. Se tivesse sido fácil não estaria aqui, inventando conselhos fictícios para seu personagem fictício. Espero que dê tudo certo e que você conte comigo mesmo que saia em carne viva disso aí.

Cuide-se. Boa sorte. Eu te amo desde a época em que não gostava de você.

H.

Gosto de

suco de laranja
rede de dormir
café
wasabi
banho demorado
strogonoff
filme da audrey
chocolate muito amargo
internet
fotos
água de coco
cafuné
praia à tarde
arroz-feijão-farofa
cantar
sexo
guppies e espadinhas
coque
primavera
Ella, Nina, Bessie, Gal, Esperanza, Zap Mama
calor
saia comprida
Salt Song
poesia
andar a cavalo
simplicidade
crônicas
ser bisneta da Marfiza duas vezes
Amor nos Tempos do Cólera
estar cercada de mulheres fortes e poderosas
conversas interessantes
pessoas inteligentes
homens com coleção de LP
escrever
barulho de chuva
recortar e colar
casa de fazenda
estantes e bibliotecas
massagem
coisas coloridas
contas
colcha de retalhos
quindim
recortes do Matisse
coisas antigas e histórias de famíla
sair pra tomar cerveja
revistas de decoração
roxo e vermelho
a família firinfimfim
papo furado
viajar
meus amigos
intimidade
aprender outras línguas, e a minha
rir
mexerica
amoRRR e gentileza
gostar.

A lista é de 2008, inspirada por uma do Jampa, e é bom ver que de lá pra cá umas coisas mudaram e outras não. Editei bem pouco.

Para ouvir: My Favorite Things

Ela desatinou

Depois que deu pra Deus e todo mundo ficou indiferente. Não apática, só não aferrada à luta cotidiana de seduzir. Ia muito do clima, do dia, do estado de espírito e da época do mês. Por vezes acordava úmida sereia e se demorava a pentear com os braços levantados em frente ao espelho. Outras, era a última mortal, toda útero revirado, tomando banho ajoelhada no chão do boxe, a água fervente a lhe tirar o viço das costas. Ainda assim, é  useiro e vezeiro avistá-la andando pela rua com um sorriso entre bobo e debochado cantando baixo alguma toada antiga, olhando para o chão e ignorando os prédios dos amantes.

Foto: Loris Machado.
Foto: “Zoe e Granato”, por Loris Machado.

Não se assuste pessoa

Hoje estou escrevendo mais que ontem e menos que anteontem. Saudade dessa escrita-umbigo, mais registro e menos conteúdo. Não divertia você, mas me faz chorar até hoje lembrando tempos idos, e olha que metade das vezes nem eu sei do que estava falando.

É claro que não tenho tempo de escrever, porque dá um pusta trabalho ser feliz. Quando a gente tá contente dá preguiça, aparecem as poucas costuras malfeitas, a gente fica planejando o futuro e tentando arrumar gavetas ao mesmo tempo em que tenta se aproximar das pessoas e fazer as coisas que aquela gente feliz faz nas propagandas e nos filmes. Canseira braba.

Quando a vaca tá magra parece que fica mais fácil ter arroubos artísticos, ganhar colo, encontrar os amigos, consertar tudo ali grosso modo porque qualquer melhora é lucro. Mas ó, não tô reclamando não. Não muito.

Para ouvir: Dê um rolê

Achados e Perdidas

Ele: “Eu tinha uma dessas sapateiras transparentes atrás da porta do meu quarto. Era uma época boa, eu morava sozinho… Aí a empregada, sem eu nem perceber, ia catando tudo que as meninas esqueciam lá em casa e colocando num bolso vazio da sapateira. Colares, brincos, coisas desse tipo. Comecei a sair com uma moça que depois virou minha namorada, ela esqueceu o relógio e eu liguei pra avisar. Ela falou: ‘ok, mas não põe ele lá no canto das meninas não, tá?’. Assim foi que eu soube que as mulheres reparam nessas coisas”

Um canalha gentil sempre guarda o que foi esquecido em sua casa, de preferência longe dos olhares curiosos das outras mulheres, sejam elas namoradas, rolinhos, flertes, mãe, irmãs ou tia Candoca. À safada de fino trato fica reservado o direito ao esquecimento por motivos alcóolicos ou de atividade sexual mas jamais, repito, jamais para marcar território. Ela sabe que não precisa desses subterfúgios. Pode ligar para pedir alguma coisa de volta, mas só se tiver clima pra isso e se for alguma coisa mais ou menos importante. E aprende que da próxima vez, né, nega, é pra isso que serve bolsa.

Este post é parte do Manual de Etiqueta Amorosa e Sexual para Canalhas Gentis e Safadas de Fino Trato. Se tiver alguma sugestão de tema, por favor deixe um comentário ou mande um email para maffalda (arroba) gmail (ponto) com.