E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem

Continuo pensando, sentindo, amando, mas o escrever se esconde na falta de gramática para descrever o colorido de tudo que pulsa. Amo minhas mulheres insulares, meus homens inteligentes e gostosos, minhas bichas ousadas e minhas sapatas valentes.

O carnaval trouxe todo esse glitter à superfície, o amor cegueta e os cupidos apadrinhantes e amadrinhantes ficam por aí tentando o juízo de quem passa. Só resta ter um coração leve e um samba de Cartola à mão. É sempre – não, às vezes – bom revirar sentimentos e armários.

Nos escritos antigos fica clara a minha desistência: larguei mão de falar de amor porque as definições são tão amplas, fica difícil sair do lugar comum. De uns tempos para cá minha cabeça de fazer conta estabeleceu que

[amor] = [(respeito) + (admiração) + (tesão)].

Como toda equação, alterando as parcelas o resultado muda. Sem tesão o amor é fraterno, não há muito que se possa fazer, qualquer cama fica grande. É coisa para um amigo de fé, uma amiga incrível ou Gandhi. Quem some na cara-de-pau perde um pouco do respeito e o amor vira bandido porque, afinal, o tesão está lá e não tem como matar a admiração por quem está aí há tanto tempo. E quando a falta de intimidade impede o tanto de admiração para completar a equação, a coisa se chama sarna para se coçar, virou-mexeu você está cavucando mais fundo pra ver se rende, e pra qualquer lado que for essa sinuca de bico, o resultado não vai ser lá muito satisfatório.

Falta muito pro próximo carnaval?

Pubis Angelical

– (…) Já vai ver como aqui é diferente.
– Em que sentido?
– Que as pessoas se deixam levar mais pelo presente, não estão planejando tudo o que virá, como nós. Não se preocupam tanto.
– Não é porque são um pouco irresponsáveis?
– Pode ser, mas assim a vida tem mais sabor, como eles dizem, há mais surpresas, mais espontaneidade, ou não?
– Você se apaixonou por alguém?
– Não, infelizmente não. Não tive a sorte. São muito diferentes, sobretudo de você.
– Em quê?
– Nas bebedeiras que tomam…
– E que graça tem isso?
– Bem, quero dizer que se embriagam, e se soltam, entende?
– Se descontrolam.
– Isso! Era a palavra que estava procurando. E é lindo, assim se pode conhecer melhor as pessoas. Não estão controladas o tempo todo, escondendo quem sabe o quê.
– Você está agressiva, Ana.

Em: Pubis Angelical, Manuel Puig.