Eu dizia o seu nome

Eu tiro os rótulos. Literalmente. Xampu tem uma cor, condicionador tem outra, sei que ao lado da pia da cozinha está o detergente, não me venham presentear com o pote de vidro escrito: “farinha”, pois se eu quiser botar açúcar vou ficar incomodada. Trabalho cá dentro pra tirar os rótulos do resto também, das pessoas, das relações, das artes – embora nem sempre consiga.

Mas tem um outro lado meu que gosta dos nomes. Dar nome, essa coisa tão americana, ajuda a pensar coisas. Um nome não necessariamente define, mas delimita, é uma beleza, uma ajuda no sentir. Ou um toque de inesperado – como aquela amiga querida que dá nome de gente ao carro, ao telefone, à panela, ao peixe, surpreendendo as pessoas com seus Osvaldos. Amo os nomes: café 22, botecamp, dez pro bem, café corrente, simplim, tão simples, não posso ver um projeto que já vou batizando. É carinho.

No fim, o que conta é mesmo entender como a cabeça funciona e como ela se arruma pra lidar com o de fora: a confusão, a demora, a impossibilidade, e até suas irmãs harmonia, urgência, realização – porque o bom também estressa. Explicando o mundo me acalmo. As palavras, elas sempre.

shampoo, condicionador, gel de banho - foto.
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