Monthly Archives: junho 2009
…é perder o tom.
Você não, nego.
Não sei se quero te chamar de família.
Nossos mundos correm paralelos.
Só a música toca, se tanto.
(Feio isso de roubar os miolinhos de pão de João e Maria.)
Amor que não se manifesta vira calo.
A vida se repete na estação
Tirei da gaveta aquele colar de prata que a Ana trouxe de Barcelona pra mim. Estava oxidado, usei assim mesmo, em duas semanas ele poliu contra o meu corpo. Só a parte redonda, um círculo cortado ao meio pra me lembrar que a vida vai e vem, com marcas de mudança a cada tanto. Agora lancei mão do truque da pasta de dente para ajeitar o colar (rabo-de-elefante, diziam antigamente) mas continua um pouco pretinha. Imperfeita e linda, como anda tudo ultimamente.
As linhas entre o que é família e o que são amigos vai se borrando cada vez mais. Os amigos parece que estiveram sempre lá, o laço já não se desfaz tão facilmente.
Pombo correio voa depressa
Ninguém acredita quando conto da nossa amizade epistolar.
Eu mesma vejo uma versão de mim aumentada, descrita, mais doce por conhecer você, a amiga que mais me ensinou elegância nesta vida, o presente que eu ganhei aos poucos e nunca deixou de me maravilhar.
Hoje eu pincei no meu baú de palavras – numa conversa de fotografias – “esse é o querido do meu coração que um dia eu vou namorar” e depois revi em outros tantos papos o seu coração rolando ladeira acima na direção dele, e dali um pouquinho todo o sono e fome da vida se instalando em vocês dois.
Nunca esperava ter você tão perto, já vi o pequerrucho paquerento um par ou trio de vezes, espero ver muito mais.
Não, também não sei a que vem tudo isso. Lua, conhaque e gratidão. Minha lótus, minha estrela, amo você!
Todo dia ela faz
Era governanta na casa dos granfinos, vivia cansada mas fazia tudo sorrindo. Xingava o despertador, levantava e quase não via o tempo se esvair entre o cuidado das crianças – levar à escola, ao médico, conversar, assegurar, ensinar o ônibus, pagar o táxi – e as contas da casa, de que também cuidava. Telefonar para os amigos dos patrões, podemos levar as crianças amanhã para uma visita?, e morrer de medo que dissessem não, que seria dos pirralhos. Um pouco de novela, que ninguém é de ferro, e aí já não sobrava tempo para a depilação, o alisamento, as unhas meio tortas. Voltava para o marido no bairro distante e a felicidade quase inacreditável do abraço dele, um jeito de se perder de tudo. As amigas ligavam, cobravam, sábado nos encontramos, só as mulheres? A outra puxava pela culpa, você mudou, Gislene, não era assim, antes gostava de nós. Ela sorria e se desvencilhava como podia. A casa em constante desalinho, roupas pelos cantos, roupas por guardar, pratos na pia. Era feliz, enfim.
Queria um dia estar com a casa em ordem e sem preocupações de trabalho, assim o amante não ficaria tão esquecido.