O número de visitantes da Bienal do Livro confirma a minha certeza de que os livros são mesmo o último grande fetiche. Não tem como não gostar do objeto livro: eles são coloridos, interessantes, empilháveis, portáteis e cheirosos.
Mesmo assim, ultimamente, seja pela falta de espaço, desapego ou adoção de novas tecnologias, vários dos meus amigos vêm se desfazendo dos seus “livros de árvore”.
As saídas mais ou menos óbvias são doação, trocas e venda. Só que “na prática a teoria é outra”, e todo mundo acaba meio perdido sem saber o que fazer ou com preguiça de procurar um rumo adequado para suas preciosidades.
Quem é festeiro pode inventar um ou mais encontros presenciais de trocas de livros: combinar com os amigos, fixar o número de livros, e deixar o pessoal escolher. O que sobrar pode ser encaminhado pelo dono da casa a outros destinos. Numa escala maior, o LuluzinhaCamp do Rio costuma ter um bazar de trocas que inclui livros, roupas, maquilagem e outros cacarecos. Em São Paulo, a Prefeitura promove uma feira itinerante de troca de livros e gibis que eu não sei se tem similares no Rio.
Se você trabalha num escritório com muita gente ou num local de grande circulação, vale aproveitar a ideia acima e ter um canto permanente de trocas ou uma biblioteca pote de mel. Só é bom ter uma pessoa responsável para a coisa não descambar para a bagunça e acabar atrapalhando o negócio principal. (Por um momento agora imaginei o horror de um escritório tomado por livros encardidos e sem capa de Sidney Sheldon.)
A alternativa online é o Trocando Livros, que funciona assim: você cadastra os livros que quer trocar, espera que alguém encomende um deles, e envia o livro pelo correio. Você paga pelo envio, mas ganha um crédito para poder encomendar outro livro no sistema. Eu usei muito o americano PaperbackSwap, que funciona parecido, mas não experimentei o site brasileiro.
Os sebos também costumam trocar livros, mas como eles visam lucro, eles selecionam quais querem (nem todos os títulos são interessantes para eles) e dão um crédito de aproximadamente 25% do menor valor de revenda. Ou seja, o mais provável é que você chegue com uma pilha grande de livros e saia com dois ou três “novos” e mais os recusados. Andei fazendo isso mês passado e achei bom, esvaziei meia prateleira!
O site Estante Virtual tem um programa de trocas exatamente como o descrito acima, com a diferença que os sebos participantes dão créditos para serem usados no site todo em vez de apenas na loja física. Ah, e se você preferir, o site também permite a pessoas físicas vender livros online por uma comissão de 5%.
Um processo um pouco mais lento é sair dando livros de presente um a um: para os amigos, ou no esquema do Livro Livre e do BookCrossing. Os mais fãs de Amelie Poulain podem fazer experimentos diversos: sentar numa lanchonete com uma pilha de livros com a plaquinha “grátis”, distribuir livros na rua, achar uma história bem empolgante para o vigia do prédio ou fazer a amiga aprender espanhol com Mario Benedetti. Aqui no Rio, alguns eventos cobram meia entrada mediante a doação de um livro.
Todo mundo quer doar para bibliotecas e instituições beneficentes. É uma boa opção, mas o processo pode ser mais demorado e frustrante do que você imagina. Pesquise, procure uma instituição perto de casa, telefone, e não se ofenda se sua doação for recusada. Lembre-se que cada instituição tem suas particularidades e que os recursos de espaço e mão de obra muitas vezes são tão limitados quanto os recursos materiais desses lugares. Aqui tem uma lista de instituições e projetos para começar sua pesquisa. O Exército da Salvação aceita livros e a retirada pode ser agendada por telefone ou online.
Por mais dor no coração que isso dê aos bibliófilos, alguns livros têm mesmo que ser descartados pois se tornaram obsoletos, perderam páginas ou simplesmente sucumbiram à ação do mofo e pragas. Por isso, se nada mais funcionar, recicle. Ou invente moda. Faça uma prateleira invisível, uma bolsa, ou uma dos vários tipos de guirlanda (esta deve dar um trabalho absurdo).
E quando sentir saudade dos livros “tradicionais”, pense em pegar emprestados, ir à biblioteca ou comprar livros usados. Mas disso eu falo uma outra hora!
Clipe tirado do post 10 music videos set in libraries and bookstores. Eu queria colocar aquele do Tears for Fears mas só achei uma versão com uma introdução chatinha.