Conferência na Casa Branca

Hoje teve uma conferência da Casa Branca sobre as Américas. O Presidente Bush moderou uma discussão entre representantes de seis ONGs, ressaltando a importância da diplomacia cidadã. Em 60 minutos ele disse a palavra “neighborhood” 33 vezes. Tudo bem, só que essa palavra pode querer dizer “vizinhança” ou “bairro”. Será que ele queria mesmo dizer “quintal”?

Deixa pra lá…

Vai ser 94

Está fazendo um calor danado e não dá vontade de sair. Dá vontade de estar no Rio e ter dezesseis anos, quase dezessete, e ser final de novembro e já ter passado de ano em todas as matérias sem recuperação, e ser quase meu aniversário quase Natal e quase Ano Novo, e eu ter um biquíni novo e ir todo dia na barraca do Pelé, depois voltar pra casa tomar banho e comer a comida da Bel e botar meu vestido marrom que minha mãe depois jogou fora a meu contragosto e ir andar na rua com alguma amiga, depois voltar pra casa e ficar no meu quarto lendo Vinícius e sentindo o cheiro das flores de manga fora da janela e ficar tão feliz que me sinto compelida a rabiscar o espelho inteiro, ter um paquera qualquer que é louco por mim ou ter um namorado pra ir ao cinema e não ver o filme e ficar só beijando achando o máximo da transgressão, sair do cinema e ir tomar sorvete num buraco qualquer pra ficar junto um pouco mais antes da hora do pai bravo, e depois outro dia ir pra Guarapari ficar de bobeira no apartamento a tarde toda, ir à praia da Areia Preta no dia seguinte e constatar que é tudo igual ao ano passado, na verdade é tudo igual a 1978, só não é mais cool mas continuar gostando mesmo assim porque cresci indo lá e porque tenho uma amiga comigo com quem eu posso falar bobagens e olhar vitrines que só vendem, claro, biquínis, ir na feira hippie e comprar um colar de um senegalês que parece um bicho de seda, o colar, não o vendedor, depois voltar e ficar numa rodinha de violão achando tudo ótimo só porque o vento está soprando na direção certa e acalma a pele ardida, voltar em silêncio para o apartamento e ir dormir achando que o único problema na vida era pernilongo.

Simplifiquei

Os hábitos (ou manias, dependendo do ponto de vista) que adotei de uns anos para cá:

– Não compro quase nada por impulso, e não faço mais compras por diversão. Não é sacrifício, é mudança de atitude mesmo. Outro dia fui à Ikea e não me deu vontade de comprar nada, saí até meio decepcionada comigo mesma achando que eu me divertia mais quando era mais consumista… Mas me pergunto: eu preciso mesmo disto? Onde eu vou guardar? Tenho ou já tive alguma coisa parecida? Como é que eu vou manter isto? (Detesto fazer limpeza e lavar roupa e comprar refil, portanto essa última pergunta é válida…) E acabo economizando desse jeito, o que me leva ao próximo item…
– Não conto mais centavinhos. Se eu sair com os amigos e gastar um pouco mais do que achava que devia, paciência. Se eu preciso comprar alguma coisa que vai fazer minha vida mais fácil/prazerosa, não fico alisando o escorpião no bolso.
– Tento usar tudo o que tenho. Isso está longe de ser verdade com as minhas roupas (estou programando uma arrumação que nunca chega), mas é mais do que comprovado com as coisas de cozinha e banheiro. Se não estou usando alguma coisa é porque não gosto o suficiente ou porque estou economizando. No primeiro caso, o destino do objeto é o lixo, e no segundo me convenço de que a vida é uma só e louça bonita é pra todo dia e aquele hidratante legal vai acabar velho e fedorento se eu não usar.
– Conseqüência do item acima: não compro xampu, hidratante e maquilagem se os que tenho ainda não acabaram.
– Outra conseqüência do item acima: tenho menos pena de jogar coisas fora. Nada de ficar guardando barbante, caixa e embalagens de margarina que eu não sou uma velha gagá, por mais ambientalista que seja.
– Exceção: detesto jogar eletrônicos direto no lixo, tento sempre vender ou achar alguém que vai aproveitar, doar. Tenho um amigo que implica terrivelmente com essa minha mania.
– Uso o mesmo produto de limpeza para tudo. Embaixo da minha pia da cozinha tem esse produto, vinagre, bicarbonato de sódio (ótimo para esfregar a banheira), detergente para louça, sabão líquido de lavar roupa e dryer sheets. Nada de limpador de azulejo, água sanitária, branqueador de roupa, etc, etc.
– Não tenho mais televisão. É uma longa história, ou talvez não tão longa: a tevê quebrou e não comprei outra. Eu sinto falta de ver Gilmore Girls (que já acabou), esportes e de fazer sessões de cinema com os amigos. Eu não sinto falta nenhuma da presença física do trambolho, dos mil fios e controles remoto, e do tempo que passava hipnotizada. Agora passo mais tempo online, assisto vídeos no computador, saio de casa para assistir jogos na casa dos outros se necessário, e o melhor de tudo: quem vem me visitar conversa comigo, não com a tevê.
– Tomei um pouco de raiva de gadgets eletrônicos. Ainda tenho alguns (câmera, ipod, celular, hd externo) mas penso mil vezes antes de comprá-los e compro o mais simples. Não tenho mais caixas de som externas para o computador, impressora (e é impressionante como não me faz falta), scanner, usb hub, nem computador desktop. A webcam eu ainda uso mas estou pensando que meu próximo laptop deveria ter uma embutida. Minha vida tem bem menos fios.
– Estou tentando conter as coleções. A de dvds só tem filmes de que realmente gosto ou que ganhei de presente, a de cds não tem tido nenhuma adição, a de livros é constantemente renovada pelo PaperBackSwap, a de moedas acabou sendo usada para lavar roupas.
– Exceção ao item acima: a minha coleção de revistas Real Simple é a coisa mais trambolhosa que tenho e ocupa uma prateleira e meia na minha estante. Comecei a assinar essa revista em 2002 e gosto muito, acho a edição bonita e tal. De uns tempos pra cá comecei a achar que tinha muita propaganda – ainda por cima do tipo que tem papel mais espesso e amostras – e dificultava ler a revista, então comecei a fazer que nem o meu pai (e eu o criticava por isso!) e arrancar todas as folhas que tinham propaganda dos dois lados. Cheguei à conclusão de que as propagandas fazem 25-30% do peso da revista mas mantive a coleção. Este mês achei a revista horrível, todos os artigos são sobre coisas que não têm nada a ver comigo, e pensei em parar de assinar. Aí mudei de idéia outra vez e resolvi que vou continuar a assinatura porque me dá acesso ao site, mas me livrar das edições antigas e recortar só os artigos que realmente me importam. Comecei um scrapbook hoje, é impressionante como eu gosto de cortar e colar, deveria estar ainda no jardim de infância!
– Esta vai aqui no meio disfarçadamente e não dou mais detalhes: parei de usar absorvente.
– Não guardo papéis desnecessários. Meus saldos de banco e cartão de crédito e minhas contas chegam todos por email. É verdade que tenho que me organizar melhor e começar a guardar esses documentos digitalmente, mas não preciso saber em que restaurante jantei em janeiro de 2005. Agora falta eu me acostumar a jogar fora os recibos do que eu compro, porque quando vejo a casa está inundada pelos malditos pedacinhos brancos de papel.
– Estou devendo a mim mesma uma arrumação na caixa de balangandãs, e continuo gostando de anéis colares e brincos, mas no dia-a-dia uso sempre os mesmos: um par de argolas, uma correntinha e um relógio.
– Continuo meio relapsa com os amigos e achando que deveria ter mais contato, mas aprendi muito bem a separar as coisas e não me chatear com as mancadas dos outros, e também a não fazer papel de boba. Okay, “muito bem” é exagero, mas estou melhorando…

O mais importante de tudo isso é que estou levando a vida que eu quero, fazendo meus erros e acertos por minha conta. Tenho muito a comemorar.

Digam nos comentários quais os truques e macetes que fazem sua vida mais fácil, eu estou sempre querendo aprender coisas novas…

Shehecheyanu

Bendito sejas tu, Senhor, nosso D'us, rei do universo, que nos manteve vivos, nos sustentou e nos permitiu chegar a esta época.

Pandora Oráculo

Enquanto minhas palavras se engalfinham no de-dentro e fazem redemoinhos de obsessão, raiva e alegrias pequenas alternadas, e desejo, e incerteza, vou ficando com o oráculo que vem pelo rádio no rádio que vem pela internet. As palavras são de outros mas ressoam alto. Mas por pior que as coisas fiquem, algumas canções estão seguras à chave. Volta, Dindi.

O teu desejo é meu maior prazer Mande notícias do mundo de lá Diz quem fica Me dê um abraço Venha me apertar Eu gosto de você e gosto de ficar com você meu riso é tão feliz contigo Coração de eterno flerte, adoro ver-te Pois quando eu te vejo eu desejo o teu desejo Ô, Rita, tu sai da janela Deixa esse moço passar Quem não é rica e é bela Não pode se descuidar Mas, Rita, tu sai da janela Que as moça desse lugar Nem se demora donzela Nem se destina a casar Ê Ô! O vento soprou! Ê Ô! A folha caiu! Ê Ô! Cadê meu amor? Que a noite chegou fazendo frio

Futuros amantes

(Chico Buarque/1993)

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

Do fundo do baú da memória

Também estava um dia lindo ontem, primavera pura, um daqueles dias em que eu, que amo calor, saio flutuando pela rua e achando que o tempo parou, que tudo vai dar certo e o mundo é lindo, por algum motivo sempre me sinto assim na primavera e termino perdidamente apaixonada, adolescente em último grau. Minha mãe diz que é porque eu sou jovem, ela também era assim, agora quando bate o calor ela só quer se esconder.
(trecho de correspondência)

Ou isto ou aquilo
(Cecília Meireles)
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

(Do livro da época de criança)

Moral da história: ler correspondências e diários antigos é bom, mas faz mal numa tarde chuvosa. Não recomendo.