O problema é o regime que não dá satisfação.

Aí eu me lembro daquela menina que morava comigo. Dançarina, bailarina
da perna grossa, não se conformava com o próprio corpo. Olhava as
próprias coxas no espelho e resolvia fazer dieta.

Não dava outra. Final de tarde ela sentava na cozinha, abria a
geladeira e fazia um sanduíche. Terminava e dizia "não era bem isso
que eu queria… Tô com vontade de comer uma coisa e não sei o que
é…" Aí pegava um iogurte. "Ainda não é isso…"

E eu, que sempre contei essa história rindo e achando a garota uma
neurótica, estou me sentindo do mesmo jeito agora. Vou dar mais uma
olhadinha nessa geladeira.

My very own Ya-Ya Sister and my very own Rupert Everett.

A minha Ya-Ya Sister, também conhecida como "eu, há uns anos atrás", foi embora daqui ontem e eu já estou morrendo de saudades. Eu a conheci há uns quatro anos, quando ela entrou no meu laboratório se oferecendo como assistente. Se ela fosse inteligente como o currículo dizia, ia ser muito bom. Ela era isso e mais, virou amiga e logo estávamos conversando sobre coisas aleatórias ou nem tanto em meio a vidrinhos e tubos de ensaio. O trabalho terminou e continuamos amigas, mas não nos víamos tanto. Saímos umas poucas vezes em DC (nunca pra dançar) e a cumplicidade do lab se transferia para a mesa de bar facilmente. Ela sempre gostou da cultura brasileira, embora falasse só espanhol (e inglês e farsi), então quando eu disse que vinha ela se arvorou logo a comprar uma passagem, antes mesmo que eu chegasse aqui. A visita dela foi melhor do que todos os planos, e olha que ela fez milhares de planos. Apesar de eu estar trabalhando e não poder sair com ela durante o dia, a minha 'maninha' se deu super bem com a minha família e com os meus amigos (até demais: ela adorou minha irmã e eu descobri que o inglês de alguns amigos é bem melhor do que eu desconfiava). Entramos num ritmo que parecia um sleepover adolescente, dividíamos o mesmo computador ao mesmo tempo e fofocávamos até tarde antes de dormir. Saímos agora no fim da visita e voltamos tarde 3 noites seguidas – em uma dessas vezes surpreendemos meus pais já acordados e de saida. Lógico que agora estamos as duas (e quem mais conseguiu entrar no ritmo) ultra cansadas e cheias de trabalho para fazer, mas valeu a pena. Essa é uma amizade que nunca mais será a mesma.

Uma dessas saidas do fim de semana foi com um amigo que estudou comigo na sexta série. Justamente na época em que minha mãe começou a me deixar ter o cabelo comprido, aí pelos 12, 13 anos, eu tinha o cabelo enorme e às vezes prendia num rabo de cavalo bem apertado pra ficar bonitinho (sim, eu era cdf). Esse menino, que era um magricela beeem espevitado, vinha e puxava meu cabelo no alto da cabeça, bagunçando todo o penteado. Pensando nisso eu jurava que ele devia gostar de mim, só podia, nessa idade. Corta pra uns anos depois, o tal do orkútio faz a gente se encontrar de novo. As fotos do moço tooooodo musculoso já me deixaram curiosa para saber quem ele era e o que estava fazendo. As menções sobre a Madonna me deixaram, digamos, me rasgaaaando de curiosidade mais ainda. Ano passado encontrei com ele por acaso, na rua, sempre aquela história de "vamos sair, etc". Agora finalmente saímos, e fomos dançar. Primeiro: olhava para aquele homem alto e gato e ficava embasbacada, imagina o filme da Peggy Sue se ela vem de lá pra cá, sabe? Demorou um tempão pra eu sair do torpor – essa amizade nuunca mais será a mesma. E segundo: ele tem um senso de humor incrível e um veneno muito apurado, que combina com o meu. Voltei com um papel de guardanapo que anotei em cima do bar com a caneta emprestada do garçom: se a p&**$ do click não acontece, pelo menos a p&**$ da legenda não faz falta nenhuma. Duas piadas internas em uma. Estou doida para sair mais vezes com o meu Rupert Everett… Ah, se ele gostava de mim? Quando eu insinuei isso ele soltou um "eu devia estar muito confuso naquela época".

Um post que não vai a lugar nenhum

Viver em compasso de espera, tomar inventário de coisas, reler outros novembros. Acompanhar o tempo da cidade como se estivesse em um filme inglês. Fazer as listas infindáveis de fim de ano, tudo o que eu tenho que fazer. Cuidar daquele assunto pra Irina, terminar de ler Tieta, reformular o currículo, arranjar um emprego, fechar este aqui, ir ao médico, arrumar o computador, desligar a luz do outro apartamento, fazer o balanço financeiro, escrever a carta pra Azy, marcar o aniversário, convidar amigos um pouco desencontrados pra sair (tudo bem), ligar pra Denise, terminar de arrumar os livros.

Só a bailarina que não tem (nem a cantora)

Antes de ir para Ouro Preto fui ao Centro Cultural Carioca para ver a cantora Letícia Tuí.  Me dei conta de que quando vejo uma mulher com um vozeirão, sorridente-e-rebolante em cima de um palco, cantando sambas de outros tempos, fico achando que a cantora é como a bailarina da ciranda. Não tem problema com namorado, não tem pereba, não tem problema, é só aquilo ali, comandando o batatal desde sempre. Racionalmente sei que não é assim, mas essa é a minha fantasia de criança, como meninos sonham com caubóis e astronautas eu tenho as cantoras como heroínas.

Em Ouro Preto, no último dia da convenção, veio a banda Tamba Tajá, só de mulheres, com um repertório maravilhoso. Teve argentino sambando no pé e paraguaia achando que era brasileira. Aliás, a percussionista da banda é uma argentina que mora no Brasil há seis anos e já não fala mais espanhol, muito linda também.

Agora dá licença que eu vou ali ao único palco que me aceita – o chuveiro. Aaaaaando meio desligaaaaaadooooo…

Yo vengo a ofrecer mi corazón

¿Quién dijo que todo está perdido?
yo vengo a ofrecer mi corazón.
tanta sangre que se llevó el río,
yo vengo a ofrecer mi corazón.

No será tan facil, ya sé que pasa.
no será tan simple como pensaba.
como abrir el pecho y sacar el alma…

Cara na porta

Pois é, aconteceu. Se eu estava precisando de um desentupimento de karma, pode muito bem ter sido isso: dei literalmente com a cara na porta. Os detalhes não interessam muito mas envolvem um dia de trabalho, uma noite de mau humor, uma conexão wireless intermitente e um corredor escuro no fim do qual estava a tal porta fechada que encontrou meu nariz a toda velocidade. O susto e a dor foram um maior que o outro, o nariz latejou por mais uma hora pelo menos. Fora o perigo de ter trocado de personalidade com a porta durante a trombada, fiquei também preocupada em encontrar um significado cósmico para a coisa toda.

Caaaaaardo…

Já tenho várias anotações e observações sobre a palestra que sugeriram no último Barcamp Rio: técnicas de blogagem para conquistar mulher. ("Pegar" é baixaria, assim não se pega nada.) Estão guardadas para ocasião propícia, as notas.

O que estava pensando hoje é que palavras não bastam. Words of love soft and tender won't win her anymore. Palavras só ajudam, principalmente se sem legendas, com big words, sussurradas ao pé do ouvido e com umas sujeirinhas pra temperar.

Mas primordial mesmo é a vontade. Mulher tem que adivinhar a intenção e a vontade, tem que ver fogo nos olhos, senão não funciona. Até Tieta pelo que sei – não garanto, não terminei o livro ainda – só se afeiçoou foi das ganas do sobrinho.

– Não adianta de nada. Nem me esconder nem rezar. Até na reza, penso e vejo.

My two cents.

Terra da garoa

O fim de semana foi bom, foi ótimo. Vi gente que conheço desde sempre e os tais amigos imaginários da internet. Vi a grávida mais linda do mundo cuja barriga ainda é menor do que a minha (a minha não vai dar em nada, é pura falta de vergonha e ginástica). Tive um insight: muitas das coisas que eu queria ter quando crescesse, o que eu imaginava que era ser um adulto cool, eu já tenho. Tenho amigos com elefantes nas paredes coloridas.

As brúxaras somos nozes.

A bruxa nasceu no imaginário de vários povos, ela ao mesmo tempo folk e folclore. Contato com a natureza, com os ciclos, com o fogo primordial da casa. Domínio sobre seu caldeirão, suas ervas e seu corpo. Aí a bruxa foi perseguida e queimada em fogueiras enormes, enforcada, afogada. Fez pontas em histórias infantis comendo criancinhas e aprisionando donzelas. Useira e vezeira em transformar príncipes em sapos também, embora alguns dispensem a mágica. Fez papel principal em filme com a Dorothy ou dando pro Jack Nicholson. Se muitos acidentes acontecem, dizem que ela está solta. Feiúra e chatice também a trazem à lembrança. Mas apesar da cara de má, ela pode ter seus encantos, como a Samantha. Nesta época do ano, em uma cruza entre Carnaval e Cosme-e-Damião, crianças se fantasiam e pedem doces. Em seu nome se fazem festas de terror onde as adolescentes se vestem de vagabundas e as já nem tão adolescentes tentam ser classudas como a Audrey Hepburn.  E às vezes, no meio disso tudo, ela é invocada para dar uma ajudinha à intuição que nem sempre acerta.