Pê-ésse

A tirinha do último post me lembrou de um menino que vi hoje (na casa de outra amiga, que hoje foi o dia de ver gente), ele deve ter uns 10 anos, argentino, assistindo uma partida do Boca contra o San Lorenzo em que o Boca fez zilhões de gols (7×1, acabei de conferir). Cada vez que saía um gol ele exclamava "qué lindo!", com encantamento e não com a empolgação belicosa de alguns torcedores. Achei bonitinho.

A ver?

Ok, sem escrever há tempos, comecemos do mais recente.

Não quero contar historinha hoje porque já é quase hora de dormir. Tantos momentos neste blog funcionam como Polaroid, é isso o que eu quero hoje.

Quero lembrar da Anubha dizendo "thank you, thank you, thank you so much" em sua festa surpresa, depois indo de pessoa em pessoa, perguntando – "e você?", ao que a pessoa dizia o próprio nome.  É que ela teve um acidente em janeiro e perdeu a visão. Ela vê vultos e usa o computador usando um programa especial que mostra duas linhas na tela, enormes. Só assim para ela enxergar. Eu não a via há quase dois anos, e fui mesmo assim à festa. Um privilégio ver e ouvir (ah, e comer, que comida indiana é muito boa! terceira vez na semana, contando o delicioso jantar em Friendship Heights) mas talvez eu tivesse que me preparar mais, dei vexame, fiquei emocionada em vê-la e ficou fácil confundir minha emoção com pena. Não era. Era emoção mesmo, um monte de coisas que vieram à minha cabeça, a oportunidade de conversar com outras pessoas que lá estavam e que também não via há tempos. Uma delas foi uma professora do departamento que me incentivou à beça a trabalhar no que eu quero e ainda disse que vai fazer a aluna dela entrar em contato comigo "porque ela tem muitos interesses e eu não quero que ela fique entediada, eu quero que ela se mantenha feliz". E mais apoio ainda eu tive da Anhuba, dizendo que sim, eu vou arranjar um emprego, porque as coisas acontecem do jeito que têm que acontecer e que ela é a maior prova disso. Agora, dá pra ficar de olho seco com uma criatura dessas?

Na hora do bolo, ela parou e fez um pedido, a imagem mais linda que vi hoje, sua postura de meditação. Presenciei o costume indiano que manda que os convidados sirvam comida ao homenageado, todos pegaram um pedaço de bolo e fizeram a coitada comer, ela já estava que não agüentava! E no discurso ela disse que estava feliz de ter todos os amigos ao lado dela, que ela teve um apoio enorme da família e dos amigos e que estava tendo a oportunidade de ter um segundo primeiro aniversário, do qual ela se lembrará para sempre. Um amigo indiano rebateu na hora: "Primeiro aniversário? Por que as mulheres sempre têm que mentir a idade???".

Definitivamente, uma lição na arte de não reclamar da vida, tema que já se repetiu vááááárias vezes esta semana.

Para completar, tirinha do blog do Guilherme, amigo da Teca e juiz de trovas:

Oito coisas

1. Não aprendi a andar de bicicleta direito, como a Denise, porque só aprendi lá pros 19, 20 anos. Nadar também foi mais ou menos com essa idade e não tenho carteira de motorista até hoje.
2. Sou uma organizada teórica. Vivo lendo livros de organização mas continuo bagunceira.
3. Passo mais tempo online do que eu gostaria. E mesmo assim não escrevo no blog! Tenho uma lista enorme de projetos que quero começar online, ainda bem que ganhei este empurrãozinho!!!
4. Sou ambientalista sem carteirinha. Esse é um dos meus projetos: quero começar a escrever sobre as coisas interessantes que ando lendo, para ver se exercito aqui o Tico e o Teco a explicar minhas idéias.
5. Morro de saudade do Brasil. Mas não tenho vocação pro sofrimento, então aguardo confiante a próxima oportunidade de aparecer por lá e ver meus pais.
6. Tenho mau gênio. Minha mãe, quando perguntada, diz que eu sou muito "positiva", que sei o que quero e não tenho paciência com gente burra. Pra mim isso se chama mau gênio, minha mãe é que não quer admitir. E quando fico com fome, fico pior ainda.
7. Tenho vários medos, mas um deles é o de ser inadequada. Hoje, em especial, esse medo se realizou, fui a uma festa e fiz tudo errado!
8. Gosto da cor roxa e das cores do arco-íris, de jazz e boa mpb, de strogonoff ou arroz-feijão-farofa, de café, de cheiro de chuva, e de massaginha no ombro.

R-E-S-P-E-C-T

(oo) What you want
(oo) Baby, I got
(oo) What you need
(oo) Do you know I got it?
(oo) All I’m askin’
(oo) Is for a little respect when you come home (just a little bit)
Hey baby (just a little bit) when you get home
(just a little bit) mister (just a little bit)

Mãe Joana

Uma amiga minha, a Pat, sempre achou a minha casa um lugar estranho onde coisas antigas podiam ressurgir a qualquer momento, a foto da bisavó, um cartão de visita dos anos 60, o desenho que fiz aos quatro anos, o correio da semana passada. (Eu tinha a mesma sensação ao ir à casa dela, onde as revistinhas Disney e os discos de rock dos anos 80 conviviam com o papel de parede de outras épocas, depois arrancado impiedosamente pela estudante de arquitetura.)

Hoje mais do que nunca estou com a casa e a cabeça reviradas. A foto da bisavó está, literalmente, na mochila, e na mesa de centro repousam outras do último dia das bruxas. Os CDs em desalinho, louça para lavar, lixo para exorcizar, livros para devolver, roupas para dobrar, emails para responder, isso sem falar aqui na cachola para organizar e uma mala para fazer.

Information overload, ou só preguiça?

Lava os olhos meus

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Fora do ar.

Sem Juju.
Sem tv.
Sem telefone.
Sem internet.

Só música e olhar pra parede.
Não bom.

Sunrise, Sunset

Assisti a Before Sunrise/Before Sunset de uma tacada só, no dia 16 de junho que é o dia em que Celine e Jesse deveriam se encontrar novamente.

Poxa, eu também queria me encontrar novamente. Ou encontrar novamente todas as pessoas em quem eu pensei durante o filme. Não foram poucas.

Vêem as fotos aí acima? Uma loira, outra morena, Paris e Rio (na foto, pelo menos), mas o mesmo jeito doce, inteligente, às vezes um pouco Iansã, passional, alguma coisa no sorriso, no olhar, no levar o cabelo para trás do pescoço. E eu fiquei pensando quando é que ela vai andar por Paris com um sósia do Ethan Hawke a tiracolo. Torcida não falta.

Depois vi o tanto que aqueles dois conversam sem legendas, e com o resto da audiência discutimos se é isso mesmo que faz um relacionamento, se isso dura. Dura? Como é que funciona mesmo?

E andar por Paris, andar por Montreal, andar por New York, até pelo centro fedorentinho do Rio e pela Paulista com seus arranha-céus, tudo isso depende de companhia, não venha me dizer que não, claro que depende, deixe-me ir preciso andar…

Talvez o grande lance dos filmes seja que eles falam tanto, mas taaaanto, que em alguma coisa todo mundo se identifica, o medo da morte, o primeiro beijo, a vontade de conexão, algo aí ressoa dentro invariavelmente.

Também a passagem do tempo, como em outros filmes, traz a velha questão da mudança e identidade. Quem era aquela pessoa que há tempos atrás via uma igual a mim no espelho mas acreditava em coisas completamente diferentes?


Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal.