Vamos marcar!

“Vamos marcar!”, é o que dizem os cariocas. Aos desavisados, isso pode soar como “quero te ver, cara!”, mas na verdade o que a pessoa quer dizer mesmo é “por favor decida a hora e o local do encontro, convide nossos amigos em comum, e eu decido se vou, se me der na telha”. Para reencontros de colégio/faculdade (formados há mais de uns tantos anos) ou ex-colegas de trabalho, é ainda mais difícil organizar porque às vezes as afinidades já foram embora.

Someone's Lost Schedule Book

Para encontros grandes, a democracia não funciona muito bem. Se ficar pedindo para o povo marcar, todo mundo vai dar uma de peixe ensaboado e fugir da raia. Eu, que não tenho espaço para oferecer festas em casa, desenvolvi toda uma técnica para marcar encontros com muita gente. Eis o que sugiro:

  1. Escolha uma data que seja boa para você e para algumas pessoas (umas 6) mais próximas a você. Confirme com elas que a data é ok. Assim, se o resto do grupo faltar, você já tem o encontro garantido. Se for um grupo mais fechado (como as turmas de colégio/trabalho), escolha 2 ou 3 opções e use o Doodle para votar na data com mais pessoas disponíveis.
  2. Escolha um lugar conveniente para você e, se a conta for uma preocupação, verifique se esse lugar tem comandas individuais. Dependendo do tamanho do lugar, você vai ter que pedir para as pessoas confirmarem com antecedência para você fazer reservas.
  3. Divulgue a data e o local do evento para o resto do grupo. Se alguém pedir pra mudar de data, não ceda e corte logo, para a pessoa não confundir e dispersar os outros. Um “depois marcamos outro” é suficiente. Use mais de um método para a divulgação: email + facebook, email + telefone, telefone + pombo-correio, o que você achar que vai alcançar mais gente. Mantenha um controle das presenças (caderninho, planilha, evernote).
  4. Mande um email no dia anterior ou na manhã do dia lembrando o pessoal. Mesmo assim, 2 pessoas vão esquecer e 3 vão te ligar quando você está no banho ou a caminho para perguntar se “vai rolar mesmo” ou “onde é que você marcou” ou “é às 7 ou às 8?”. Releve.

Divirta-se!

E me convide, por favor. Se der na telha eu dou uma passadinha!

Para ouvir:

Você não me vê como eu sou

Estou tendo dificuldade de explicar, mas é mais ou menos assim: você começa uma conversa com um homem e, especialmente se essa conversa for online, lá pelas tantas você percebe que não é exatamente com você que ele está conversando. O diálogo é com um amálgama entre você e uma personagem de uma história qualquer que ele tem na cabeça.

hope

Dependendo de quem é o cara, a história da linha cruzada pode ser um enredo de revista pornô, uma história mal resolvida com uma ex ou até caso enrolado com a mãe. Um ou outro costuma jogar uma trama de revista Sabrina, mas é mais raro. No clube da finasterida, o galho pode ser crise de meia-idade ou problemas no casamento.

As dicas de que o portal da realidade alternativa foi ultrapassado são um certo descompasso entre as linhas narrativas, o uso de uma ou outra palavra fora de lugar, e um pedido estranho pra gente gemer de repente no fim da conversa (no caso dos fãs de Sabrina, basta um suspiro e eles ficam satisfeitos).

É desapontador para qualquer uma que carregue a esperança de ser considerada pela pessoa que é, a aparência que tem e as idéias que desenvolve. O negócio é que a gente não consegue sair incólume. Agora que mais ou menos consegui descrever a situação e tenho certeza de que algumas pessoas se reconheceram, espero que alguém me explique como acordar os pobres acometidos desse tipo de ilusão ou sair com fineza desse tipo de armadilha.

O futuro não é mais como era antigamente

De tudo o que li em 2011, o que mais me agradou foram os artigos que indicam as tendências para a vida no futuro, principalmente nos grandes centros urbanos. É sempre bom ver a própria utopia se transformando em mainstream. E, falando em utopia, foi o sonho nem tão curto assim dos occupiers deste ano que colocou em pauta uma transformação que já não pode ser ignorada.

Então eu, que já achava o crescimento desordenado e a ditadura do mercado coisas pra lá de cafonas, me arvoro a fazer minhas próprias previsões. Futurologia. Posso?

Para começar, o futuro é local. A ideia é morar, trabalhar, estudar, comprar e fazer amigos tudo no mesmo quadrado. Menos engarrafamentos, mais tempo para família e lazer e mais senso de comunidade proporcionarão uma melhora sensível na qualidade de vida de quem seguir essa tendência. Além disso, o apoio à economia local e a mudança dos meios de transporte – dispensando muitas vezes o uso de carro e incentivando caminhada, bicicletas e transporte público, nessa ordem – trarão benefícios à comunidade, à saúde e ao meio ambiente.

O futuro também é pequenininho. Todo esse esforço de localização pode sair muito caro, portanto nada de muita metragem nas casas e apartamentos. Além disso, se há atividades e amigos por perto, não é necessário ter uma casa do tipo “meu lar, meu castelo”. Isso acarreta economia de energia e outros recursos, mas também faz com que o acúmulo de bens materiais (dois cortadores de grama, três aspiradores de pó, um vestido de noiva) fique mais difícil. Uncluttering também está na moda. Não sacou? Uncluttering: “desbadulaquização”. Tudo isso faz com que sobre mais tempo para viver. É um círculo virtuoso.

A outra palavra de ordem é resiliência. Ainda que seja assim, muito de leve, de brincadeira, as pessoas estão acumulando habilidades que as fazem menos dependentes da máquina externa. Quem duvidar pode conferir os novos blogs de artesanato (crafting), jardinagem e hortas, e todo tipo de atividades faça-você-mesmo. Agricultura urbana definitivamente é o futuro. Você ainda vai comer muita salada de varanda.

E o melhor por último: consumo colaborativo. Produtos serão gradualmente substituídos por serviços e parcerias. A internet está aí para facilitar a conexão de pessoas de um mesmo CEP com os mesmos interesses. Isso vai aquecer o mercado de usados, o aluguel de equipamentos grandes e até carros entre pares, o compartilhamento de serviços (de creches a painéis solares), e a troca de conhecimento em comunidades próximas.

Eu quero estar lá para ver tudo isso. E você?

http://vimeo.com/26573848

(Vale a pena ver de novo!)

Outras leituras:

E o mundo fosse nosso outra vez

O rock nasceu para ser revolucionário numa época em que a juventude do mundo todo estava demonstrando suas inquietações políticas em manifestações públicas. No Brasil, a Bossa Nova e a Jovem Guarda simbolizavam o conformismo e apenas apareciam as primeiras guitarras elétricas. Vaias nos festivais eram o sinal de que o público queria menos “A Banda” e mais “Roda Viva”.

Mais de 40 anos depois, cá estamos num Brasil sem ditadura, em que a nova classe média ganhou poder de compra e faz uso dele, a velha classe média pendurada compra para não ficar atrás, e ficamos todos mais ou menos na mesma. A ignorância disfarçada de pessimismo inteligente faz com que as pessoas prefiram dizer que ‘político é tudo ladrão’ do que correr atrás de votar certo ou de vigiar o que os seus eleitos estão fazendo. Uma certa fadiga quanto ao discurso ambiental cega as pessoas para as possibilidades de iniciativa individual, e isso junto com a necessidade de demonstração de status resulta em cada vez mais carros, cada vez mais gadgets, cada vez mais bens materiais.

Essa curva de comportamento segue direitinho o roteiro de um país “em desenvolvimento”, nos moldes dos booms econômicos de além-fronteira. Só que agora o refrão “la crisis, la crisis” é deles, e as manifestações vêm de todos os lados. Fácil dizer que era no Egito que a coisa estava preta: Espanha e Grécia são mais perto do nosso imaginário e agora é Wall Street, o pedaço do touro, que está ocupada há duas semanas. Duas semanas de gente gritando, de gente colocando num mural quanto deve, gente que está perdendo emprego e casa protestando contra o domínio das grandes corporações sobre a vida deles. Nenhum jornal por mais de dez dias, até este sábado quando 500 manifestantes foram presos sobre a ponte do Brooklyn.

Enquanto isso, a música do “se a vida começasse agora e o mundo fosse nosso de vez” toca na televisão, o Rock in Rio é o principal assunto, e estamos todos voltados para a tela, sem um pingo de revolta no coração. A não ser, é claro, que consideremos o axé a maior ameaça ao bem-estar mundial.

http://www.youtube.com/watch?v=HRFw5u5wR4c

A série de tuites do @dj_spark que inspirou este post:

Tomaram a ponte do Brooklyn… Cês tão ligados que tá tudo ligado (Egito, Espanha, Grécia, etc) e estamos no meio de uma revolta, né?
Que isso deve mudar o papel das corporações, que talvez mude o fluxo do dinheiro, que se criem novos modos de vida, com outros enfoques?
Que tem gente para caralho de saco cheio de só se foder (e não vai ficar só reclamando no twitter).
O primeiro destaque do Globo foi quando prenderam 500 pessoas ontem. Antes disso, 2 semanas de protestos OCUPANDO Wall St. e nada no jornal.
E que estamos desdenhando isso daqui do nosso pais-zão, pq estamos bem, tranquilos, todo mundo enchendo a pança, pagando 700 reais pra show.

This is not a love song

I’m here again with a sunshine smile upon my face
My friends are close at hand
And all my inhibitions have disappeared without a trace
I’m glad, oh that I found somebody who I can rely on

Não era uma canção de amor, porque o amor ficou confundido com o tesão e nunca veio de verdade. Anos depois ela só guardava a lembrança de como a respiração dela mudava quando ele entrava no mesmo ambiente. E mais alguns anos, ela já não guardava nada, nem mágoa de como ficou tudo. Enfim, não era de amor mas era aquela música que por um tempo tocava no rádio ou numa dessas coletâneas da internet, e ela lembrava muito, lembrava ruim. Desabafando com um amigo sobre isso, tiveram uma idéia: vamos ressignificar essa música pra você, tá?

Ressignificaram gostoso.

Esta ficou no lugar.

Eu não pertenço a você

Segunda-feira passada o Twitter avisou que não estava mais conseguindo mandar emails para a minha conta Maffalda do Gmail. Quando tentei logar, descobri que fiquei trancada pra fora por atividades suspeitas na minha conta. O Google está tentando me proteger, provavelmente porque usei algum aplicativo não confiável. Até agora não consegui recuperar a conta. Estou bastante nervosa, mas tenho amigos prestativos a quem já expliquei a questão.

Isso me fez pensar que tenho que ficar mais afiada na questão das senhas e sistemas. Eu simplesmente esqueci a senha do email Maffalda porque redireciono tudo para Heloisa (é, esse é meu nome e meu outro endereço).

Com essa história, também achei as mensagens que recebo periodicamente do Google* sobre as contas cujo email de recuperação é o meu endereço principal. Além dos endereços dos meus pais, da minha irmã e mais alguns criados por mim, já foram criados nada menos que TRINTA E OITO endereços de gente que nunca vi mais gorda nem mais magra na vida. E essas pessoas todas acham que vão conseguir recuperar a senha um dia dando meu email.

Isso me deixava num dilema ético muito grande, pois não conseguia achar um jeito de desvencilhar minha conta dessas novas sem efetivamente deixar os usuários (em sua maioria novatos) trancados para fora de seus emails.

Discípula de Madre Teresa de Calcutá que sou, fiz uma mensagem padrão que envio cada vez que sou avisada de uma nova conta criada em meu nome:

Provavelmente seu nome é Heloisa, como o meu. Por favor leia este email com atenção, pois ele tem a ver com a segurança da sua conta de email.
Você está recebendo esta mensagem porque, ao criar a sua conta do gmail, você usou o meu endereço (…@gmail.com) no formulário de recuperação de senha.
Isso significa que se um dia você perder sua senha e tentar recuperá-la, o google vai mandar uma mensagem para mim. E eu não vou poder fazer nada quanto a isso, nem vou poder informar isso pra você.
Isso é um problema gigante de segurança das suas informações!
Para sua segurança, por favor visite a página de opções da sua conta e troque o seu email secundário (“secondary address”) por um outro endereço de email SEU, ao qual você tem acesso, como seu endereço do msn, hotmail, yahoo, ou o endereço do trabalho.
Desta forma, minha conta de email e a sua vão ficar completamente separadas para sempre. 
https://www.google.com/accounts/UpdateAccountRecoveryOptions
Obrigada.

Pelas minhas contas, isso funcionou umas 4 ou 5 vezes. Para não dizer que sou santa de tudo, uma vez uma garota me respondeu “Não vou trocar” e eu não resisti: entrei na conta dela e troquei a foto do Orkut para a foto do burro do Shrek. A conta do Orkut tinha o endereço de msn, então fiz todo um malabarismo para a garota recuperar a senha através do hotmail, não sem antes deixar um baita sermão registrado nos scraps. A menina tinha só onze anos, mas não me arrependo. Cumpri meu papel de adulta. (Ou não! :))

E então descobri, agora há pouco, que o Google arquitetou uma solução para o meu problema. O nome do serviço é DisavowAccount. Disavow pode ser traduzido como negar, desmentir ou retratar, mas apelidei o serviço carinhosamente de t’esconjuro! que é pra ficar mais divertido.

Basta entrar na tela de recuperação de senha de qualquer serviço Google, digitar o endereço que não é seu (annyheloisalinda, por exemplo, afemaria). Você vai ter que passar por um captcha e digitar o seu email (aquele que é seu, só seu, e ninguém tasca). Imediatamente você receberá uma mensagem com duas opções de link: um para trocar a senha do email (no caso de o usuário ser uma pestinha pré-adolescente) e outro que diz “se esta conta não é sua, clique aqui”, com uma chave única para desvencilhar seu endereço para sempre.

Achei finíssima a solução. Agora posso voltar a ser a Maffalda?

(*)Your secondary address, ...@gmail.com, is associated with: O seu endereço secundário, ...@gmail.com, está associado a: 

Os livros, discos, dicionários

O número de visitantes da Bienal do Livro confirma a minha certeza de que os livros são mesmo o último grande fetiche. Não tem como não gostar do objeto livro: eles são coloridos, interessantes, empilháveis, portáteis e cheirosos.

Marilyn Monroe lendo Leaves of Grass
Livros e Chanel N°5. Quer ver mais estantes? http://bit.ly/maffaestantes.

Mesmo assim, ultimamente, seja pela falta de espaço, desapego ou adoção de novas tecnologias, vários dos meus amigos vêm se desfazendo dos seus “livros de árvore”.

As saídas mais ou menos óbvias são doação, trocas e venda. Só que “na prática a teoria é outra”, e todo mundo acaba meio perdido sem saber o que fazer ou com preguiça de procurar um rumo adequado para suas preciosidades.

Quem é festeiro pode inventar um ou mais encontros presenciais de trocas de livros: combinar com os amigos, fixar o número de livros, e deixar o pessoal escolher. O que sobrar pode ser encaminhado pelo dono da casa a outros destinos. Numa escala maior, o LuluzinhaCamp do Rio costuma ter um bazar de trocas que inclui livros, roupas, maquilagem e outros cacarecos. Em São Paulo, a Prefeitura promove uma feira itinerante de troca de livros e gibis que eu não sei se tem similares no Rio.

Se você trabalha num escritório com muita gente ou num local de grande circulação, vale aproveitar a ideia acima e ter um canto permanente de trocas ou uma biblioteca pote de mel. Só é bom ter uma pessoa responsável para a coisa não descambar para a bagunça e acabar atrapalhando o negócio principal. (Por um momento agora imaginei o horror de um escritório tomado por livros encardidos e sem capa de Sidney Sheldon.)

A alternativa online é o Trocando Livros, que funciona assim: você cadastra os livros que quer trocar, espera que alguém encomende um deles,  e envia o livro pelo correio. Você paga pelo envio, mas ganha um crédito para poder encomendar outro livro no sistema. Eu usei muito o americano PaperbackSwap, que funciona parecido, mas não experimentei o site brasileiro.

Os sebos também costumam trocar livros, mas como eles visam lucro, eles selecionam quais querem (nem todos os títulos são interessantes para eles) e dão um crédito de aproximadamente 25% do menor valor de revenda. Ou seja, o mais provável é que você chegue com uma pilha grande de livros e saia com dois ou três “novos” e mais os recusados. Andei fazendo isso mês passado e achei bom, esvaziei meia prateleira!

O site Estante Virtual tem um programa de trocas exatamente como o descrito acima, com a diferença que os sebos participantes dão créditos para serem usados no site todo em vez de apenas na loja física. Ah, e se você preferir, o site também permite a pessoas físicas vender livros online por uma comissão de 5%.

Um processo um pouco mais lento é sair dando livros de presente um a um: para os amigos, ou no esquema do Livro Livre e do BookCrossing. Os mais fãs de Amelie Poulain podem fazer experimentos diversos: sentar numa lanchonete com uma pilha de livros com a plaquinha “grátis”, distribuir livros na rua, achar uma história bem empolgante para o vigia do prédio ou fazer a amiga aprender espanhol com Mario Benedetti. Aqui no Rio, alguns eventos cobram meia entrada mediante a doação de um livro.

Todo mundo quer doar para bibliotecas e instituições beneficentes. É uma boa opção, mas o processo pode ser mais demorado e frustrante do que você imagina. Pesquise, procure uma instituição perto de casa, telefone, e não se ofenda se sua doação for recusada. Lembre-se que cada instituição tem suas particularidades e que os recursos de espaço e mão de obra muitas vezes são tão limitados quanto os recursos materiais desses lugares. Aqui tem uma lista de instituições e projetos para começar sua pesquisa. O Exército da Salvação aceita livros e a retirada pode ser agendada por telefone ou online.

Por mais dor no coração que isso dê aos bibliófilos, alguns livros têm mesmo que ser descartados pois se tornaram obsoletos, perderam páginas ou simplesmente sucumbiram à ação do mofo e pragas. Por isso, se nada mais funcionar, recicle. Ou invente moda. Faça uma prateleira invisível, uma bolsa, ou uma dos vários tipos de guirlanda (esta deve dar um trabalho absurdo).

E quando sentir saudade dos livros “tradicionais”, pense em pegar emprestados, ir à biblioteca ou comprar livros usados. Mas disso eu falo uma outra hora!

Clipe tirado do post 10 music videos set in libraries and bookstores. Eu queria colocar aquele do Tears for Fears mas só achei uma versão com uma introdução chatinha.

Tenho tudo planejado pra te impressionar

Meus mais sinceros conselhos para quem está redigindo ou reformando o próprio currículo.

Disclaimer: Nada aqui é conselho profissional. É tudo chute.
Siga por sua conta e risco.

1. Não escreva “Curriculum Vitae” em letras garrafais no alto. Coloque apenas o seu nome em destaque, fonte tamanho 14 ou 16, no máximo. Se você não fez alguma coisa muito errada no conteúdo ou na formatação, ninguém vai achar que é uma receita de bolo. (Também não coloque seu nome como uma imagem jpg colada no arquivo. Sim, já vi isso.)

2. Não coloque foto. A não ser que a vaga seja de modelo ou apresentador, a não ser que a empresa peça explicitamente, não é bom tascar aquela 3×4 no currículo.

3. Brasileiro, solteiro, 25? A sua idade pode ser deduzida mais ou menos pela época em que você terminou (ou vai terminar) a faculdade. Uns 99,9% das pessoas que se candidatam a vagas no Brasil são brasileiras (mencione se você não é). E isso de colocar estado civil e número de filhos eu acho o fim da picada. Você está insinuando que ser solteiro é melhor ou pior que ser uma mulher casada em idade fértil ou um pai de 3 filhos?

4. Coloque seu email, telefone de contato e endereço. Coloque também as redes sociais de que você participa, principalmente se estiver se candidatando a um cargo relacionado a marketing digital, mas dê uma conferida antes nas informações que estão em aberto nas suas redes. Você não vai querer mostrar todas as suas fotos zuper zexy ao recrutador nem incluir um twitter “com cadeadinho”. Ah, deixe de fora o número do RG, CPF, e nome dos seus pais, não é ficha na polícia. Também é desnecessário escrever “email:”, “telefone:” e “endereço:” antes de cada informação. Isso vale também para as outras partes do currículo, é dispensável escrever “empresa:”, “cargo:”, pois em geral a formatação e a inteligência do recrutador dão conta do recado.

foto por fashionablygeek.com
Ou você pode fazer uma camiseta...

5. A formação deve ter datas de conclusão (ou previsão) em ordem cronológica reversa. Não precisa incluir o ensino médio se já faz algum tempo que você se formou. Não se esqueça de incluir a pós e cursos relevantes.

6. Sua experiência profissional também deve aparecer em ordem cronológica reversa, com o último emprego primeiro. Nome da empresa, cargo, data de entrada e saída (mês e ano) e uma descrição breve. Preste atenção à linguagem da descrição: escolha se quer usar verbos no infinitivo, substantivos, verbos em primeira pessoa no passado (fica esquisito, mas é questão de gosto), e fique firme para não parecer uma salada. Quanto às descrições, aproveite esse espaço para falar de habilidades que você adquiriu em outras posições que podem ser úteis na sua busca atual. Também é importante ressaltar mais as posições mais recentes.

7. Nas informações adicionais, inclua seus conhecimentos de softwares, línguas (se mentir tem castigo!) e outras atividades, tais como atividades voluntárias, intercâmbios e projetos paralelos.

8. Se tiver feito muitos freelas, você pode escolher entre incorporá-los na seção de experiência profissional ou colocá-los numa seção à parte.

9. Algumas pessoas gostam de colocar um resumo no começo do currículo com as qualificações profissionais. Tem que ser curto. A vantagem de ter uma seção assim é que você pode adaptá-la para diferentes vagas.

10. Capriche na formatação. Mantenha coerência na formatação ao longo do currículo: se usou itálico para cargo e negrito para o nome da empresa faça isso para todos os itens, por exemplo. Sem frescura, um tipo só de fonte, mesmo espaço entre os parágrafos, um espaço um pouco maior entre as seções, no máximo duas páginas, mesma indentação em tudo, bullets todas do mesmo tamanho, etc. Não deixe o Word decidir por você, mostre quem é o chefe.

11. Revise mil vezes. Corrija o português. Mande para um ou dois amigos e peça a opinião deles.

12. Se vai imprimir, imprima num papel branco e limpo, nada de coloridos ou marmorizados. Se vai mandar por email, salve em pdf (o CutePDF serve para isso). Além de ser um formato mais bonito, você não corre o risco do software avacalhar a formatação do doc (na melhor das hipóteses) ou mostrar o arquivo com todas as suas correções (na pior).

13. PelamordeD’us, não mande o currículo anexado no email sem escrever nada. Descubra o nome da pessoa que está recrutando, mande umas linhas simpáticas dizendo que seu currículo está em anexo e que você está disponível para a entrevista, algo não muito formal mas também não muito desleixado. Não estrague a primeira impressão.

14. Confie em você e nos seus revisores. Se parecer mais conveniente inverter a ordem das seções para mostrar as suas melhores qualidades primeiro – freelas mais interessantes que as experiências, ou uma formação acadêmica que tem pouco a ver com a sua carreira atual – vá em frente. E esteja preparado para mandar o currículo no corpo do email, só em texto, se isso for solicitado.

Boa sorte!

Este post, como diz lá o disclaimer, é quase um desabafo e está repleto de opiniões pra lá de pessoais. Agora que eu já estou mais leve, dê seu palpite nos comentários também. Aproveite para contar qual foi o currículo mais estranho que você já recebeu ou enviou.

Leia e vai saber o que é encanto

Renda-se aos livros eletrônicos!

Mesmo que você não tenha um dispositivo dedicado exclusivamente à leitura de ebooks,  recomendo fortemente baixar o aplicativo do Kindle. Há versões para browser (o Cloud Reader), PC, Mac, iPad, e para espertofones iPhone, BlackBerry e Android. Esse aplicativo permite comprar livros na Amazon e importar livros de domínio público de sites como o Projeto Gutenberg.

O pulo do gato fica por conta do software Calibre. Ele faz a mágica de transformar todos aqueles PDFs de artigos que você guardou para ler um dia (e textos em .txt, .odt e .html) em ebooks que podem ser lidos confortavelmente no seu celular. Funciona também como gerenciador de pdfs, renomeando todos por nome do documento e autor, uma boa pedida para tirar os arquivos “54225.pdf” dos recônditos das pastas esquecidas.

Com esses dois aplicativos você nunca mais vai ter desculpa para não ler!

O bônus para quem tem um Kindle é o aplicativo SENDtoREADER. Ele manda o conteúdo de qualquer página web ou post do Google Reader diretamente para o seu dispositivo, usando o email *@free.kindle.com. O conteúdo já chega formatado e sem propagandas ou banners.

Agora o problema é só não perder o ponto para descer do ônibus e não tropeçar na rua.

O eterno deus mudança

A cada degrau do declínio do Império Americano, surgem movimentos culturais de simplicidade que tentam trazer à tona os princípios dos fundadores religiosos dos Estados Unidos, a austeridade dos peregrinos protestantes e quakers. Tudo indica que desta vez é pra valer: esse tema tem entrado para a cultura mainstream e vêem-se cada vez mais adeptos.

Se dos anos 60 e 70 herdamos movimentos mais radicais, como os sobrevivencialistas (que são o centro da piada do filme De volta para o presente) e as correntes espiritualistas defensoras da vida simples, hoje há novas expressões da simplicidade tais como minimalismo, location independence e consumo colaborativo. Também se destacam novas formas de usar o tempo (redução da jornada de trabalho e mais trabalho freelance), desenvolvimento de habilidades autossuficientes (“faça-você-mesmo”) e mais relacionamentos dentro de uma comunidade de acordo com interesses comuns.

Para mim, os mistérios são dois. Um é como tudo isso vai se juntar e o que vai permanecer no mainstream quando e se a crise passar. O outro é como vão se desenvolver essas iniciativas no Brasil, onde o crescimento econômico recente foca muito no consumo e esquece a sustentabilidade.

Por enquanto estão surgindo aqui e ali algumas idéias de trocas e compartilhamento de bens (consumo colaborativo), tanto locais (Toma Lá Dá Cá, dia 13/8 no Rio!) como online (DescolaAí), muitos sites falando de ciclismo, e mais e mais pessoas “alternativas” (no bom sentido!) com idéias legais. Vai que cola…

http://vimeo.com/26573848

Ótimo vídeo da autora Juliet Schor falando da Economia da Plenitude.

Randy White, o criador do site Bright Neighbor, de Portland. Ele defende com unhas e dentes que existe um plano B para a crise americana e que ele inclui, necessariamente, agricultura urbana e local. Pena que ele parece um pouco doidinho ao falar das suas idéias. Mesmo assim, vale dar uma olhada.

Caso não tenha ficado claro: tem muita oportunidade de desenvolvimento de ferramentas online para incentivo de consumo colaborativo (veja o vídeo da Rachel Botsman) e aplicativos mobile para incentivar trocas de bens e serviços locais. Larguemos o vício do ineditismo e comecemos a experimentar na adaptação e tropicalização das tendências lá de fora. Não é imitação, minha gente, é leapfrogging!