Meu corpo combina com seu jeito

O corpo acostuma. É o que eu acho mais bonito, não interessa onde: o impulso da bola de vôlei, a pressão certa do instrumento musical sobre o corpo ou vice-versa, o peso da bailarina no pas-de-deux, o toque da mão do outro naquela parte pequena das costas, o abraço gostoso do amigo. O corpo acostuma com como a voz passa e acostuma a esticar o braço e alcançar o mouse, a pegar uma pitada de sal e agitar a frigideira. O corpo acostuma e reacostuma, e a gente quase esquece como ele é inteligente.

Sou toda ouvidos

Cuide de você – Sophie Calle

Maffalda:
acho que vou dormir
sozinha
menina, depois marcamos um chopp pra eu te contar da expo
fiquei tão puta
Prill:
li ontem sobre essa exposição na Bravo
fiquei… car****o
mas puta? conta só um pedacinho
Maffalda:
ah.
mulheres.
sabe sex and the city?
sabe como às vezes o cara tem um defeito e as mulheres esmiuçam e amplificam
e acabam destacando o pior dos homens para verem a amiga que “merece coisa melhor” continuar sozinha?
sabe a histeria de achar que não precisam fazer nada
Prill:
uma? um?
Maffalda:
mas os homens têm que ser perfeitos?
o cara manda uma carta
Prill:
sim, sim
Maffalda:
que não é nada de mais, talvez um pouco evasiva, “ele não está a fim de você”
e chamam ele de cachorro pra baixo
só uma ou duas falam coisas sensatas
se fosse o contrário
se fosse uma mulher escrevendo a carta e uma expo sobre isso
seria ultra machista
eu ficaria ainda mais ofendida
sei lá, acho que a gente vive numa histeria coletiva onde
ser um homem hetero é uma coisa muito difícil
muito complicada
Prill:
porra… demais essa sua impressão
nossa
nossa
o Rafael está te apoiando baseado na Bravo
Maffalda:
fui vendo e fui ficando cada vez mais irritada
bufava, quase bati pezinho
(“porque essa seria uma reação super madura, Maffalda”, disse o moço)
Prill:
eu também achei exagerado. gostei da ideia, mas fiquei um pouco desconfiada
Maffalda:
a idéia é boa, tanto que mexeu
mas pô.
Prill:
receber uma carta de adeus é um tema muito bom
Maffalda:

que mulherada mais corporativista
Prill:
mas a coisa me pareceu reunião de mulheres pra falar mal do cara
Maffalda:
pois é
“ele não te merecia”
porra
essa é a pior
pior que isso só se o cara disser isso, porque aí em geral é verdade
Prill:
nossa, muito, muito bom mesmo saber isso que você viu
vou reler a carta daqui a pouco
Maffalda:
leia e depois me diga
já não se pode mais quebrar corações em paz.
ô vida.
Prill:
(me pareceu muita exposição da própria vida, dum modo que ultrapassa o que eu gosto da vida como arte, do cotidiano como arte. ficou… ahm… um pouco suzana vieira?)
Maffalda:
hahahaha
bom, posso postar isso no blog?
não digo pra ninguém que você terminou comigo por msn
Prill:
terminei?
bah, a mulher já tinha feito isso
claro que pode, eu fico pavão pracacete
Maffalda:
:*
então tá!
Prill:
fico feliz
🙂

PS: Para mais sobre a dificuldade de ser homem, veja o Dan Savage falar sobre caras hetero. (Em inglês, nsfw.)
Update: Atualizei o link do vídeo porque ele foi tirado do ar no canal original. Provavelmente por causa dos palavrões, quem sabe? (junho/2013)

Mulher de um homem só

Maffalda (por Alex Castro)Muita coisa já foi dita sobre o livro de Alex Castro, Mulher de um homem só. A narradora, que é estranhamente onisciente, fala de um tempo indeterminado no futuro onde muito já aconteceu – três gerações adiante? Também disseram, e com razão, que as neuroses dela são legitimamente femininas, revelando a compreensão que o autor tem das mulheres – árdua pesquisa, deve ter sido. Li também por aí alguém querendo saber por que as duas mulheres do livro nem se matam nem se comem. Seria outro livro, e nesse caso o título mudaria totalmente de sentido.

Gostei do estilo intimista da narradora, do vaivém dos fatos, afinal, ninguém se senta num boteco e conta tudo em ordem cronológica. Já fui Carla, já fui Júlia, já tive uma Júlia e se bobear fui até Murilo. Mas nao é esse o pulo de gato do livro. O grande lance é que até os que não são versados em armações triangulísticas se identificam com o livro porque MDUHS é sobre intimidade. Não amor, não ciúme, não relacionamentos. Intimidade.

A intimidade entre amigos de adolescência que faz com que um ature as idiossincrasias do outro e a outra saiba as taras do um, se eu mexer meu pé assim ele fica bem à sua vista, vou abaixar aqui pra pegar uma coisa no chão mas vê se não olha pra minha bunda, claro que eu quero que você olhe, tá bobo?

A intimidade entre marido e mulher que faz o controle mais fácil e simula aquilo que chamam de amor plácido, querido, vamos batizá-las, sim, querida, a madrinha será aquela que você não gosta, e sua mãe se intromete tanto.

A intimidade entre inimigas cordiais, fica quieta e mexe no meu cabelo, or causa dos santos a gente beija as pedras, não sei muito bem como me livrar de você, não quero seu mal mas por favor suma do mundo.

E depois as intimidades pequenas entre madrinha e afilhada, a outra amiga da adolescência, a mãe de alguém próxima, a própria mãe numa intimidade incômoda que geral palpites infelizes.

No fim fiquei achando que faltava à Carla um pouco mais de intimidade com outras pessoas, ou com um terapeuta, não sei. O final suspenso me diz que um dia a coisa muda, devagar, porque tudo muda se alguém muda. Mas a essa altura do campeonato todo leitor já tem intimidade com os personagens e sabe adivinhar o que acontece depois. Leia.

O falar por falar sendo assim não se diz

Bonito mas é melhor anotar que achei, porque depois posso não lembrar que o que queria mesmo era estar aqui mas não no por dentro da minha pele, queria estar ali cantando e remexendo e sendo outra, bonito mas quantas quis ser no meu futuro imaginário desejando ser ainda melhor, brilho e mãe e ainda assim ainda não e talvez nunca. E os outros adivinham isso em mim mas, claro, a dificuldade de adivinhar os outros às vezes é imensa. Sem jeito pra saralho.

Descolagem #4: Convergence culture’s impact on learning and entertainment

Brazilian high school hosts event on Transmedia Storytelling on August 22nd. Heroes and Smallville’s associate producer Mark Warshaw will speak and the event will be livestreamed

Imagine a high school where students are not only allowed to use computers and gadgets but encouraged to learn to create software, electronic games, videos and programs for digital television, cell phones and the internet. Such a school is a reality in Rio de Janeiro, Brazil, and it’s called NAVE (Núcleo Avançado em Educação – Advanced Education Center). NAVE is a public school that was adopted by Oi, one of the biggest telecom companies in the country. “I am very impressed with NAVE. They make a strong effort to integrate technology into education, a truly exceptional piece of work. It beats schools I’ve seen in the US.” said Microsoft researcher Johnny Chung Lee during his visit to NAVE last year.

On August 22, NAVE will host Descolagem (read full description below), one of a series of events that brings together students, professionals and guest speakers to discuss technology-related themes. In this issue of Descolagem, Mark Warshaw, Geoffrey Long and Maurício Mota will discuss the impact of the culture of convergence on education and entertainment.

Instead of just explaining the concept of Transmedia Storytelling, pioneered at MIT, the speakers will guide the audience through a true transmedia experience. The event will be livestreamed, and both the live and the online audiences will participate on an interactive SMS game.

On the same day, there will be the release of the Descolagem App, an application about the project that will be available for free on iTunes. This app has more resources than apps related to other technology events, such as TED (TED.com), and was developed by the startup Bitix.

All participants in the live event will be entered a prize drawing for a “dPod”: a customized Apple iPod Touch loaded with text, videos and images generated during previous editions of Descolagem and, of course, with the Descolagem App.

Curator Beto Largman hopes the event’s format will prove that transmedia storytelling is a resource storytellers, game designers and educators can use to develop strategies to reach out to their audiences and spread content in a unique way: using the best features of every platform but never forgetting the importance of a good story. Mass audiences are more and more willing to be engaged through different media, such as games, internet and the “old” media, both for learning and entertainment purposes.

The livestream will be available on Saturday, August 22nd, 11am PDT/2pm EDT, with Portuguese and English audio channels at http://nave.oi.com.br/webtv.

Speakers:

Mark Warshaw>>
Mark Warshaw is a writer, producer and director who produces interactive content, working on the edge between old and new media. His degree is in Journalism and Mass Media, and he has developed seven webseries. He joined Heroes in 2006 to help launch the series’ transmedia department, which ultimately brought the “Outstanding Interactive Programming” Emmy to the Heroes Evolutions channel. Mark is also a graphic novel writer. Prior to joining Heroes, Warshaw spent six years on the TV show Smallville, overseeing all of its digital, DVD and integrated advertiser marketing initiatives. Recently, he has been involved in the first open-source television show Imagine This! (imaginethistv.com), a project that aims to bring people together to promote sustainability and the environment.

Geoffrey Long>> www.geoffreylong.com
Geoffrey Long is a media analyst, scholar, and creative consultant. He is currently a researcher and Communications Director for the Singapore-MIT GAMBIT Game Lab, a research project of the Comparative Media Studies program at the Massachusetts Institute of Technology. He is also a writer, designer, musician, artist, filmmaker, and shameless media addict. His professional career includes a decade-long run as the editor-in-chief of the literature, culture and technology magazine Inkblots and co-founding the software collective Untyped, the film troupe Tohubohu Productions, and the creative consulting company Dreamsbay. Geoffrey is a frequent lecturer on narratives in different media, particularly transmedia storytelling, and his own storytelling has appeared in Polaris, Gothik, Hika and {fray}.

Maurício Mota>>
Maurício started his career as an entrepreneur at age 15, when he and writer Sonia Rodrigues developed a platform to transform stories into games and software. In two years it was applied in over 4,000 schools, sold in stores all over the country and is being used as an innovation and creativity tool by companies and institutions including the United Nations, Kraft Foods, Coke and local companies such as TV networks, studios, carriers and internet portals. Maurício was the first Latin American to speak at MIT’s Futures of Entertainment conference. He was judge at the Festival of Media in Valencia (Spain) and is part of the international board for the Medici Institute. For the past five years he has been involved in innovative projects for several clients, allying convergence to content development. He also launched the Portuguese version of Henry Jenkins’ Convergence Culture: Where New and Old Media Collide.

Beto Largman>>www.feiramoderna.blog.br
Beto writes the blog Feira Moderna, for Globo Online. As a journalist specialized in technology, internet and design, he has managed several projects involving electronic media, art and culture; participated in various radio and tv shows; and edited magazines. He writes for weekly magazines and is a blogger for the portal Mundo Oi. Due to the success of his spot on the program “Qual é a boa?” on Multishow, he was invited to narrate the show about games “Cybernet”, on the same channel.

DESCOLAGEM
Descolagem is a partnership between journalist/blogger Beto Largman and Oi Futuro that aims to debate the impact of new technologies on the production and sharing of knowledge and information. A Descolagem event can be a talk, round table, movie, performance, workshop, course or whichever format is useful for the subject. Descolagem happens at NAVE, and intends to be a test tube to try new formats of interaction in a learning environment. Anyone can participate, because social networks such as Twitter, Flickr, YouTube and blogs are shown on screens around the room. The event can also be followed live online, through live streaming video. All content generated during Descolagem (videos, posts, presentations) is available online after the meetings, so the project generates research material that can be used by NAVE friends and the general public.

NAVE

Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa

Ainda aprendo a…

  • cantar
  • conduzir uma entrevista
  • dirigir
  • assoviar alto colocando os dedos na boca
  • cozinhar
  • fazer maquilagem decentemente
  • falar francês
  • usar bem o wordpress
  • dançar
  • fazer tricô

Me ensina?

(Algum) Blog Action Day

Minha idéia para o dia da ação é uma não-ação.
Não compre.
Não compre a idéia de que para ser melhor você tem que comprar alguma coisa. Não compre tudo em que as propagandas querem que você acredite. Não compre um modelo pronto para a sua vida, com carro, casa e criança. Não compre tudo o que aparecer pela frente, não compre embalagens pelas quais você paga mais do que pelo produto, não compre marcas e grifes. Não compre roupa que não vai usar, não compre coisas que só servem para dar status e mostrar que você é melhor que o resto. Não compre o que é prejudicial à sua saúde, ao seu bolso ou ao meio-ambiente. Não compre cirurgia plástica, não compre o que aparece na tevê, não compre…

(Escrevi o post para um blog action day, dia 15/10/2007, e nunca terminei. Que pena, porque estava no embalo… Mais uma descoberta dos drafts do blogspot.)

Eu também (ou o anti-Linha-Reta)

Eu também quebrei a cara,
eu também levei porrada.
Eu também tenho medo, muito,
eu também não quero tanta intimidade,
eu também confesso minhas infâmias,
eu também lembro as minhas cobardias,
eu também tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas.

Mas também
eu também gostava de gostar de gostar,
eu também estive realmente a ouvir,
Ut ameris, amabilis esto.
Felix qui potuit rerum cognoscere.
Quidquid latine dictum sit, altum viditur.

Eu também amei um pouco,
eu também não sei onde vou.

Vou dormir, isso sim.

(Este post era um draft no blogspot, datado de 28/2/2005)

De tudo o que eu ainda não vi

A la Prill, a la Puig,
mas filme contado – sem Gladys

A ponte, luzes ao longe, o Curinga num grafitti, reflexos na janela do ônibus. Lembra dum futuro, o homem tateando palavras na tela do computador, rodeando. Ela segura de si pergunta é isso mesmo? Olha que a ilusão de mim é melhor que eu e você também não deve ser tudo isso. Ele: tenho. Ela repassa mentalmente o ciclo, as unhas, a depilação em dia, o tempo de lavar os cabelos, blefa: então motel agora. Mudez de dígitos, sente o computador quase tremer, mensagem no celular com o endereço. Ela pensa nas drogas que são boas pra ansiedade mas decide que ansiedade é bom, está guardada há tanto tempo a tensão sexual entre os dois. Não sabe bem o que vai dizer. Joga um cd na bolsa.

Ele chega primeiro e manda um torpedo do 408. Ela sua diante da porta. Ele abre e mais esquisito que o beijo de cigarro e o abraço pela cintura é aquele antequarto de mesa posta.

O sexo não é fluido nem deveria. É errático, é sofrido, tem espaço pra melhorar. Os olhos ficam vermelhos e o corpo relaxado, os pés meio dormentes, ninguém precisava de drogas afinal.

Repassam os episódios passados, o que você disse, o que eu pensei, meu namorado na época. Ela pergunta dos filhos, ele disse que não tem, você sabe disso. -Sei. Quer ter? -Por que pergunta? -Sempre pergunto. Não quero, não quero me envolver com homem com relógio biológico.

Brinca com as mãos dele, calos. Mergulha nos olhos dela. Ele é exatamente imperfeito como ela imaginava, de uma virilidade quarentona desajeitada. Ela é quase melhor que as mais novas, com suas rugas de quarentona risonha.

Roupas de volta, porta da rua, despedida incerta. Ela entra no ônibus, olha pela janela e rabisca um outro futuro.